Mamografia: com que idade e frequência fazer o exame?

Após polêmica envolvendo a idade para fazer o rastreio no começo do ano, Ministério da Saúde anuncia acesso à mamografia no SUS a mulheres a partir de 40 anos mesmo sem sinais de câncer

Mulher realiza exame de mamografia
Mulher passa por exame de mamografia Foto: Freepik

Às vésperas do início do Outubro Rosa, o Ministério da Saúde anunciou o acesso à mamografia no SUS a mulheres de 40 a 49 anos mesmo sem sinais ou sintomas de câncer. Essa faixa etária concentra 23% dos casos da doença e a detecção precoce aumenta as chances de cura. A medida faz parte de um conjunto de ações do Ministério da Saúde voltados à melhoria do diagnóstico e da assistência, com início do atendimento móvel em 22 estados pelo Agora Tem Especialistas.

A recomendação para as mulheres a partir dos 40 anos, segundo a pasta, é que o exame seja feito sob demanda, em decisão conjunta com o profissional de saúde. Além disso, outra medida anunciada refere-se à ampliação da faixa etária para o rastreamento ativo, no qual a mamografia preventiva deve ser realizada a cada dois anos. A idade máxima, antes limitada a 69 anos, será estendida para 74 anos.

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Pressão de especialistas fez ANS alterar diretriz

É a segunda vez que a discussão em torno da idade inicial e a frequência com que a mamografia tem de ser realizada ganha destaque em 2025. No início deste ano, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável pela regulação dos planos de saúde no Brasil, gerou polêmica ao lançar uma consulta pública sobre boas práticas em serviços médicos oncológicos. Entre as propostas do texto, estava o aumento da idade mínima para realização da mamografia, que deveria ser bianual, a partir dos 50 anos. Ainda que diversos especialistas e entidades médicas recomendem que mulheres com risco habitual – ou seja, sem histórico familiar de câncer, alterações genéticas previamente detectadas ou sintomas suspeitos – comecem o rastreamento dez anos antes, aos 40, e o repitam uma vez por ano.

O assunto causou indignação, críticas e inúmeros questionamentos na época. Diante de todo o debate, a ANS concedeu um prazo de um mês, para que as organizações que se manifestaram contrárias à faixa etária proposta no novo programa de boas práticas oncológicas, apresentassem um parecer com evidências científicas sobre o tema.

Como resposta, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), elaboraram um documento em conjunto, reunindo dados e estudos que embasam a importância de ampliar a mamografia de rastreio para mulheres de 40 a 74 anos. De acordo com o parecer, 40% das mulheres têm câncer de mama nessa faixa etária e 22% dos óbitos pela doença também ocorrem em mulheres antes dos 50 anos.

Depois de analisar o documento, a ANS acatou o pedido das instituições médicas e setores da sociedade e mudou a orientação. A agência divulgou que o rastreamento deve, sim, ser feito de forma ampla em mulheres a partir dos 40, para que os planos de saúde recebam a certificação de boas práticas em oncologia.

Afinal, qual a idade certa para começar a fazer a mamografia?

A resposta pode variar, conforme as diretrizes de diferentes instituições de saúde, além do risco de cada pessoa para o desenvolvimento de câncer de mama ao longo da vida, de acordo com a mastologista Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos, secretária-adjunta da Sociedade Brasileira de Mastologia e membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e da American Society of Clinical Oncology (ASCO).

Até o novo anúncio, o Ministério da Saúde indicava que mulheres com risco habitual de desenvolver câncer de mama comecem a realizar mamografias a partir dos 50 anos, a cada dois anos. Uma recomendação que, segundo o mastologista Afonso Nazário, do HCor – Hospital do Coração (SP), se baseou em diretrizes europeias. “Sabemos que essa população é diferente da brasileira. Pesquisas sobre faixa etária média de pacientes com câncer de mama na Europa mostram que a média lá é muito elevada, em comparação com o Brasil, ficando em torno dos 60, 62 anos. Ou seja, para a Europa, existe lógica em iniciar o rastreamento aos 50”, pontua Nazário, que também é Chefe da Disciplina de Mastologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp).

A Sociedade Brasileira de Mastologia, a Febrasgo e o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), por sua vez, já recomendavam a realização anual a partir dos 40 anos de idade até os 74 anos, para mulheres com risco populacional usual de câncer de mama.

Mas o câncer não mede idade e pode ser diagnosticado até mesmo em pessoas mais jovens.

Para as mulheres que têm risco elevado, o rastreamento mamográfico pode ser recomendado já a partir dos 30 anos. “Mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou outros fatores genéticos que aumentam o risco (como mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2) podem ser incentivadas a realizar mamografias mais precocemente, por vezes associada à ressonância de mamas”, ressalta a mastologista. “O objetivo é englobar um maior número de mulheres com risco para o desenvolvimento do câncer de modo a detectá-lo antes de se identificar sinais ou sintomas”, completa Annamaria.

Mais medicamentos para o combate ao câncer de mama

O Ministério da Saúde anunciou ainda que, a partir de outubro, o SUS vai disponibilizar novos medicamentos para o tratamento do câncer de mama. Um deles é o trastuzumabe entansina, indicado para mulheres com câncer de mama que ainda apresentam sinais da doença mesmo após a primeira fase do tratamento com quimioterapia antes da cirurgia.

O outro grupo são os inibidores de ciclinas (abemaciclibe, palbociclibe e ribociclibe), recomendados para pacientes com câncer de mama avançado ou metastático, quando a doença já se espalhou para outras partes do corpo, e que apresentam receptor hormonal positivo e negativo.