Se fosse possível eliminar o coronavírus a bala, os brasileiros estariam bem servidos. Jair Bolsonaro acaba de zerar as alíquotas de importação de revólveres e pistolas. 

Como boa parte do arsenal da bandidagem entra no país de forma legal, para depois ser desviado para a clandestinidade, em breve poderemos ter traficantes e assaltantes de banco ostentando pistolas de grife. Pais de crianças mortas em tiroteios nas favelas poderão se consolar com o fato de que a bala saiu de uma arma estrangeira. 

Com notável senso de oportunidade, ou como provocação mesmo, o presidente alardeia a medida armamentista nas redes sociais, no momento em que seu governo parece ser mais um obstáculo do que um facilitador da vacinação contra a Covid-19.

Subitamente preocupado com a “comprovação científica”, algo que nunca aconteceu no caso da cloroquina, ele insiste em prazos alongados de análise e liberação dos imunizantes pela Anvisa, enquanto governos civilizados estudam meios de abreviar esses processos. 

Ao mesmo tempo, seu anti-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, suposto gênio da logística, faz cara de paisagem diante das evidências de que deixou de providenciar insumos como seringas e agulhas na quantidade necessária para a vacinação de um país de dimensões continentais. 

Por causa disso, é incorreto equiparar o presidente e o governador de São Paulo João Doria na discussão sobre a vacina, como alguns têm feito. 

Não que seja fácil simpatizar com o comportamento de Doria. 

Na sua discussão de ontem com Pazuello, durante uma reunião de governadores sobre vacinação, houve teatro barato nas alegações de que queriam censurar a sua fala, e um afã indisfarçado de tirar proveito político de toda a situação. 

Não à toa, mandatários de Estados com menos recursos, que dependem inteiramente do Ministério da Saúde e só têm a perder com a politização da vacina, se mostraram aflitos com a incompetência da administração federal e incomodados com os gestos do “colega” de São Paulo. 

Feitas todas as contas, no entanto, resta um fato incontestável: com planejamento e um tanto de sorte, Doria em breve terá vacina para oferecer aos cidadãos paulistas. Bolsonaro não tem vacina e oferece morte, com armas a precinho camarada. Não se pode equiparar as duas coisas. 

E então, quando acha que a morbidez é tudo que define o presidente, você lembra que uma solenidade foi realizada na segunda-feira para que ele e sua mulher, Michelle “Por-que-Fabrício-Queiroz-depositou-89-mil-na-sua-conta?” Bolsonaro, apresentassem em uma redoma o terno e o vestido que usaram na posse de 2019.

Ao combinar duas características que parecem incompatíveis, Jair Bolsonaro demonstra ser mesmo um personagem raro. Ele consegue ser maligno e ridículo ao mesmo tempo.