Malafaia diz ter recebido ligação de Paes após ação da PF determinada por Moraes

O Pastor Silas Malafaia
O Pastor Silas Malafaia Foto: Divulgação

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, declarou, em entrevista à IstoÉ, que recebeu ligações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e também do prefeito do Rio, Eduardo Paes – aliado de Lula.

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Malafaia aproveitou para criticar que, no caso da prisão domiciliar de Bolsonaro, governadores como Tarcísio, Ratinho Júnior (Paraná), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ronaldo Caiado (Goiás) não se posicionaram com veemência contra Alexandre de Moraes

“Eu recebi telefonemas do governador de São Paulo [Tarcísio de Freitas, do Republicanos] dizendo que o que estavam fazendo comigo era um absurdo, do governador e do prefeito do Rio de Janeiro [Cláudio Castro, do PL, e Eduardo Paes, do PSD, aliado de Lula], da Michelle e dos filhos do Bolsonaro”, disse

“Critiquei Tarcísio, Ratinho Júnior [governador do Paraná, PSD], Romeu Zema [governador de Minas Gerais, Novo] e Ronaldo Caiado [governador de Goiás, União Brasil] antes disso [operação]. Nesse episódio [da prisão domiciliar] de Bolsonaro, eles não foram veementes, não fizeram crítica direta a Alexandre de Moraes”, completou

Malafaia expõe que, mesmo figuras políticas com quem não está alinhado ideologicamente – que é o caso de Eduardo Paes – teriam considerado um excesso a atitude de Moraes.

Isso porque há dias um inquérito colocou Malafaia no alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal e seu passaporte e celular foram apreendidos.

Para a PF, o pastor atuava “na definição de estratégias de coação e difusão de narrativas inverídicas, bem como no direcionamento de ações coordenadas que, em última instância, visam coagir os membros da cúpula do Poder Judiciário, de modo a impedir que eventuais ações jurisdicionais proferidas no âmbito do STF”.

Silas Malafaia tem longa atuação política, chegou a apoiar Lula nas eleições de 2002 e 2006, mas rompeu com o PT e migrou para apoiar figuras como Serra em 2010 e, mais tarde, Bolsonaro – com quem ainda mantém um vínculo forte, apesar de não se considerar bolsominion.

Paes, por sua vez, vem mantendo uma aliança pragmática com Lula. Em 2024 destacou em entrevista: ‘não tem nada que eu peça ao Lula para o Rio que ele não faça’, e o chamou de ‘grande parceiro’.

Lula já se referiu ao prefeito como ‘especial’ em um evento no Rio, sugerindo uma relação institucional de confiança.

Malafaia diz que ‘não é bolsominion’ e pode criticar ou elogiar Bolsonaro e Lula

O pastor afirmou ser ‘livre para apoiar ou criticar’ o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Não sou partidário, não pertenço ao PL ou sou bolsominion. Sou livre para apoiar ou criticar Bolsonaro, criticar Lula e, se ver alguma virtude nele, falar, sem nenhum problema. É minha liberdade, da qual não abro mão”, disse.

O pastor relatou ter se oposto à decisão de Bolsonaro de viajar aos Estados Unidos após perder a eleição para Lula, em dezembro de 2022, e evitado transmitir a faixa presidencial ao sucessor. “O Lula, na iminência de ser preso, não saiu do país, uma postura de líder. Não estou aprovando Lula, estou falando de uma postura dele, e posso mostrar centenas de outras negativas”, afirmou. Do final da década de 1980 até a primeira eleição do petista, em 2002, o líder religioso chegou a apoiá-lo.

Malafaia disse ter entendido mais tarde que, se não deixasse o país na ocasião, Bolsonaro estaria “preso há mais de um ano”. Acusado de cinco crimes no STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente está em prisão domiciliar desde 4 de agosto por decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Para o magistrado, ele atentou contra a soberania nacional ao atuar ao lado do filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), na articulação que levou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros como forma de pressionar o Judiciário brasileiro a não punir o aliado.

Sobre Alexandre de Moraes declarou que o ministro “tem cometido crimes ao longo dos últimos anos”.

“Eu tenho denunciado diariamente. Eu não vou mudar em nada, porque não sou intimidado por ditador. O primeiro pedido do meu advogado [após a operação da PF] foi pela devolução dos meus cadernos de esboços teológicos. Quando cheguei ao aeroporto, o delegado folheou página por página dos meus cadernos, e viu que era conteúdo teológico. Mesmo assim, eles foram apreendidos. Moraes cometeu perseguição religiosa”, disse.

“Nos áudios trocados com Bolsonaro, não havia qualquer indicativo de que eu pretendesse fugir do Brasil. Eu tenho igrejas em Portugal e nos Estados Unidos; se eu quisesse fugir, já estava fora [do país]”, completou Malafaia.