28/05/2021 - 18:21
As pessoas que conheciam Nelson Mattos, o Nelson Sargento, o definem como um homem elegante, bem humorado, inteligente, um exímio contador de histórias e um sujeito de bom caráter. Bom de papo, ele transformou suas mais de 400 canções em crônicas sobre o Rio de Janeiro. Mas há uma história especial atribuída à sua vida particular. Certa vez, ao ficar doente por causa de uma infecção, teve que ser internado, mas sua esposa, Evonete, também estava enferma e internada no mesmo hospital. O que fez Nelson Sargento? Como estavam em quartos separados, e a mulher não sabia de seu real estado de saúde, sigilosamente ele pediu a um parente que lhe levasse ao hospital algumas mudas de roupa. Então, todos os dias, nos horários das visitas à Evonete, ele tirava o pijama da enfermaria hospitalar, vestia suas próprias roupas guardadas no armário e ia até o quarto da esposa como se ele não estivesse hospitalizado. Dizia que o esforço valia à pena porque se ela o visse internado ficaria preocupada e sua recuperação ficaria mais difícil.
Durante seus 96 anos de vida, Nelson Sargento desenvolveu diversas atividades artísticas. Foi compositor, cantor, escritor e ator e artista plástico, com pinturas maravilhosas. Apesar de ser um artista excepcional, foi como pintor de paredes que ele garantiu o sustento da família por muito tempo. O samba era o gênero musical em que ele se destacava, embora no início não tenha recebido a valorização necessária. Foi discriminado e perseguido, mas viu seu trabalho ganhar corpo, status e fazer sucesso mundo a fora. Do seu violão, comprado de segunda mão, nasceram sambas inesquecíveis como “Agoniza, mas não morre” e “Falso amor sincero”. Sargento se tornou um dos baluartes de uma das principais Escolas de Samba, a Estação Primeira de Mangueira. “O negro, forte e destemido”, como era classificado pelos amigos, Nelson Sargento foi embora devido à Covid-19, no mesmo momento em que o Brasil está sob o desgoverno do ex-capitão Jair Bolsonaro, que representa o inverso de tudo que o Sargento significava. O Brasil precisa de mais Sargentos e menos capitães.
