Embora a obesidade tenha sido apontada pela ciência como um dos principais fatores de risco para o surgimento do câncer, a maioria das pessoas ainda desconhece o fato. O excesso de peso é facilmente apontado como uma das causas do infarto e da diabete, mas quase ninguém o relaciona com o desenvolvimento de tumores. Entre a população, ainda prevalece a concepção de que a doença tem causas genéticas, o que é verdade em vários casos, emocionais, o que é uma bobagem total, ou que, no máximo, está vinculada a hábitos como o tabagismo ou o alcoolismo, o que também é verdadeiro. Porém, o total de casos relacionados ao estilo de vida é bastante superior ao daqueles originados em erros genéticos. A adoção de hábitos saudáveis — incluem-se aqui uma dieta equilibrada e a prática de exercícios físicos — reduziria a incidência da enfermidade em cerca de 40%.

Por isso, um levantamento recente publicado na revista científica The Lancet ganha importância ao trazer à tona números preocupantes associando o câncer à obesidade, chamando a atenção de médicos e pacientes para o tema. Coordenado por médicos da Associação Americana do Câncer, o trabalho coletou dados de pacientes de 25 estados americanos, o que representava 67% da população. Foram analisados mais de 14 milhões de casos de 30 tipos da doença surgidos entre 1995 e 2014 em pessoas com idades entre 25 e 84 anos. Doze dos tumores estudados estão comprovadamente associados ao acúmulo de gordura: colorretal, esofágico, bexiga, gástrico, renal, hepático, mieloma múltiplo, pancreático, de tireóide, uterino, de mama e ovário. Os dados revelaram que em seis deles (mieloma múltiplo, corretal, uterino, bexiga, rim e pancreático) houve aumento de casos entre os participantes de 25 a 49 anos, particularmente entre os obesos.

JOVENS ALVOS

Pior, a pesquisa revelou que o crescimento é maior entre os mais jovens, faixa etária na qual o índice de obesidade atinge cerca de 20% da população naquele país. Um exemplo é o que foi registrado com tumor de pâncreas. Entre 40 e 84 anos, a média anual de crescimento é de igual ou menos de 1%. Entre 35 e 39, a elevação média é de 1,3%. Entre 30 e 34 anos, é de 2,5%. Entre 25 e 29 anos o índice de crescimento de casos registrado foi de 4,3%. O aumento expressivo entre os mais jovens chamou a atenção dos pesquisadores porque, até recentemente, o câncer de pâncreas era considerado raro em indivíduos com menos de 30 anos. A maioria dos casos surgia depois dos 60 anos. No Brasil, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer, dos 19 tipos mais incidentes em 2018, nove estavam associados à obesidade.

“Os resultados são um aviso dos danos que a ignorância sobre o vínculo entre as doenças pode trazer” Ahmedin Jemal, médico, Sociedade Americana do Câncer (Crédito:Divulgação)

As conclusões deixaram os estudiosos preocupados. “Esse crescimento recente de tumores vinculados ao excesso de peso entre jovens adultos pode interromper e até fazer retroceder o progresso que fizemos nas últimas décadas para reduzir a mortalidade pela doença”, disse à ISTOÉ a epidemiologista Hyuna Sung, a líder do trabalho. “As pessoas devem estar mais atentas ao vínculo entre as duas enfermidades. Nossos resultados são um aviso dos danos que a ignorância sobre isso pode trazer”, completou o médico Ahmedin Jemal, da Sociedade Americana de Câncer.

 

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