Mais mortes e menos nascimentos: crise demográfica se agrava na França

Pela primeira vez desde a 2ª Guerra, país registrou mais óbitos que nascimentos. Taxa de natalidade vem desabando desde 2010 e só fluxo constante de imigração tem permitido que população continue crescendo.A população da França atingiu um novo recorde em 2025: 68,6 milhões de habitantes, segundo dados provisórios divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos Demográficos (Ined) na terça-feira (16/12). Mas uma análise detalhada do número mostra que ele na realidade esconde uma grave crise demográfica, que tem acelerado nos últimos anos, especialmente na França metropolitana, a parte europeia do país, que não inclui os territórios fora do continente.

Em 2024, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a França metropolitana registrou mais óbitos do que nascimentos. E esse envelhecimento populacional tem sido mais acelerado do que o previsto pelo Ined, que não esperava tal mudança antes de 2035. No ano passado, foram registrados 629 mil nascimentos na parte europeia do país, contra 630 mil óbitos.

Os números detalhados de nascimentos e óbitos de 2025 só devem ser divulgados em janeiro de 2026, mas o relatório provisório do Ined não indica otimismo.

Esse desequilíbrio demográfico é conhecido como "crescimento vegetativo negativo", pois não leva em consideração a imigração para o país. O crescimento tímido da população nessa fatia do país entre 2024 e 2025 – que teve um saldo positivo de 159 mil pessoas – se deveu mesmo exclusivamente ao saldo positivo do fluxo de imigração.

Em 2024, foram emitidas 343.000 permissões de residência em todo o país, principalmente para estudantes (32%) e para reunificação familiar (26%). As permissões por motivos humanitários beneficiaram 54.514 pessoas. Segundo o Ined. mais da metade dos recém-chegados (55%) foram morar em regiões urbanas já densamente povoados, contra apenas 15% que foram para áreas rurais.

Nascimentos e fecundidade em queda, mortes e abortos em alta

O Ined ainda aponta que o número anual de nascimentos na França, atualmente em torno de 661 mil em todos os territórios franceses e de 629 mil na parte europeia do país, vem diminuindo de forma constante desde 2010. Há 15 anos, o país registrou aproximadamente 833 mil nascimentos em todos os seus territórios e 802 mil somente na parte europeia. De acordo com o Ined, a tendência é ainda mais forte em áreas ruais da França metropolitana.

Segundo o Ined, a taxa de fecundidade foi de 1,62 filhos por mulher em 2024, uma queda de 0,04 ponto em relação a 2023. A diminuição, segundo o instituto, afeta particularmente as idades tradicionalmente mais férteis (25-34 anos) e envolve todos os territórios franceses. Além disso, a prevalência da infertilidade definitiva (mulheres sem filhos aos 50 anos) também aumentou desde 2014.

O pico de nascimentos por volta de 2010, que marca o fim da última tendência demográfica de crescimento e o início da crise financeira e a consequente instabilidade, coincide com as principais preocupações citadas pelos franceses em uma pesquisa publicada pela Câmara dos Deputados francesa na última sexta-feira.

Nessa pesquisa, que consultou mais de 30 mil cidadãos para apurar os principais motivos pelos quais optaram por não ter filhos, 42% dos participantes disseram que foram dissuadidos de ter mais de um filho por "considerações financeiras" e 18% atribuíram a decisão a "preocupações com o futuro".

Para lidar com esse problema, a ministra francesa da Saúde e da Família, Stéphanie Rist, anunciou na segunda-feira um "plano nacional de combate à infertilidade" com medidas para "tratar e preservar" a fertilidade, campanhas informativas e maior disponibilidade de serviços de congelamento de óvulos.

Em seu relatório, o Ined também chamou a atenção para o crescimento do número de abortos em toda a França. Em 2024, foram realizados 252.000 abortos voluntários na França – 8.000 a mais do que em 2023.

Envelhecimento populacional preocupa

No entanto, além da queda na taxa de natalidade, o envelhecimento da população pode se tornar uma corrida contra o tempo para garantir que o número de pessoas em idade ativa permaneça suficiente para sustentar os idosos.

A porcentagem de pessoas com mais de 65 anos na França aumentou de 14% da população total em 1990 para 22% em 2025. Essa tendência de envelhecimento deve se agravar nos próximos anos devido ao grande número de pessoas pertencentes à chamada geração Baby Boom (1945-1975), atualmente com idades entre 50 e 80 anos.

O número de pessoas na força de trabalho na França poderá continuar crescendo até 2040, ou em alguns casos até 2036, antes de começar a diminuir: tendência que não mostra sinais de reversão até 2070.

jps/md (EFE, ots)