Mais Médicos na mira de Trump? Por que EUA revogaram vistos de ex-membros do programa

Profissional do Mais Médicos

O governo dos Estados Unidos cancelou os vistos de mais dois brasileiros: Mozart Júlio Tabosa Sales, secretário do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, consultor para a COP30 da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica.

A razão foi o período em que ambos atuaram no Mais Médicos, programa criado no governo Dilma Rousseff (PT) e mais conhecido pela contratação de médicos cubanos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Neste texto, a IstoÉ explica as razões por trás da nova medida do presidente americano, Donald Trump, e o que ela representa na escalada de tensões entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto.

Mais Médicos na mira?

No anúncio da revogação, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que a medida está relacionada à “expansão das restrições impostas ao regime cubano” pelo governo Trump.

Segundo Rubio, o Mais Médicos foi uma “fraude diplomática inconcebível de ‘missões médicas’ estrangeiras” para fortalecer o governo autoritário de Cuba, alvo do mais duradouro embargo econômico imposto pelos EUA a outra nação, vigente há mais de seis décadas.

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Bandeira de Cuba tremula em frente à embaixada dos Estados Unidos em Havana: relação entre as nações é conflituosa

De 2013 a 2018, com Dilma e Michel Temer (MDB) como presidentes, médicos cubanos eram contratados para prestar serviços no SUS, em especial para alocação em regiões remotas do país, onde há maior carência para encontrar profissionais da área. Mais de 8 mil cubanos chegaram a atuar ao mesmo tempo no Mais Médicos.

Para colocar o projeto em prática, os governos cubano e brasileiro firmaram um convênio por meio da Opas (Organização Panamericana de Saúde), que intermediava pagamentos enviados pelo Ministério da Saúde brasileiro aos órgãos correspondentes de Cuba.

Após centenas de ações judiciais movidas por médicos que acusavam falta de pagamento e, por fim, o impeachment da petista, “fiadora” do programa, o governo Temer ocupou gradualmente o Mais Médicos com profissionais brasileiros, em tendência ampliada por Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, 92,25% dos profissionais do programa nasceram no Brasil.

Mozart Julio Tabosa Sales trabalhou no programa sob a gestão de Dilma, quando a maioria dos profissionais contratados era cubana. Hoje consultor da COP30, Albeto Kleiman trabalhou nas relações institucionais do Ministério da Saúde entre 2012 e 2015, auge da parceria da pasta com o governo de Cuba.

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Cartaz mostra o ministro do STF Alexandre de Moraes e Donald Trump em protesto em São Paulo: protagonistas de conflito diplomático

Trump contra o Brasil

A retaliação ao Mais Médicos pode estar mais relacionada a Cuba do que ao Brasil, mas fato é que a ofensiva de Trump contra o governo Lula segue a todo vapor.

Começou em 10 de julho, quando, em carta direcionada ao Palácio do Planalto, o americano afirmou que Bolsonaro, réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, sofria uma “caça às bruxas” pela corte, razão pela qual taxaria em 50% todos os produtos brasileiros enviados ao país.

Com o rechaço do empresariado e uma série de negociações diplomáticas para a reversão, o tarifaço passou a vigorar com menor peso e mercadorias afetadas. Ainda assim, o impacto para as exportações do Brasil é relevante.

Nos EUA desde março, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) assumiu autoria parcial da articulação pelas taxas e prometeu que novas retaliações estavam por vir. Em 18 de julho, Marco Rubio anunciou a revogação dos vistos americanos do ministro Alexandre de Moraes, seus familiares e de outros sete integrantes do Supremo.

No fim do mês, Moraes foi enquadrado na Lei Magnitsky, legislação empregada pela Casa Branca para punir estrangeiros que violam os direitos humanos e é considerada uma “morte financeira” para seus alvos.

Mesmo na mira de Trump, o ministro colocou Bolsonaro em prisão domiciliar pelo descumprimento de medidas cautelares, gerando novas previsões de sanção pelos bolsonaristas. Conforme revelou o jornal O Globo, aliados do magistrado na corte temem o enquadramento na Magnitsky e têm o aconselhado a “moderar” nas decisões.