O economista Roberto Campos Neto, indicado para a presidência do Banco Central, defendeu nesta terça-feira, 26, o rigor da autoridade monetária no combate à inflação e descartou qualquer afrouxamento dos juros em nome apenas de um maior crescimento da economia.

“A coisa mais importante para o crescimento é a estabilidade de preços. Nos países onde se sacrificou inflação por crescimento, a expansão da atividade durou pouco e depois houve recessão. Isso aconteceu também no Brasil”, respondeu ele, em sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Para Campos Neto, o desempenho do PIB brasileiro em 2018 foi um pouco decepcionante, mas o teria sido devido a fatores atípicos. Ele citou a crise em países emergentes como a Argentina e Turquia, as incertezas sobre os juros da economia norte-americana, a crise dos caminhoneiros e as incertezas sobre as eleições brasileiras. “Estou convicto de que podemos esperar um resultado melhor neste ano. Além disso, as reformas são fundamentais. A história recente mostra que é importante continuar na trajetória de reformas”, completou.

Autonomia

Campos Neto defendeu também a autonomia operacional da autoridade monetária para perseguir a meta de inflação. “Não se fala em o BC criar suas próprias metas, mas sim poder segui-las. Toda vez que há um risco, as pessoas o colocam no preço. Se existe o risco do BC não seguir suas finalidades, isso entra no preço. A autonomia permite então que os juros sejam mais baixos para uma mesma inflação, porque é retirada uma componente de risco na curva”, explicou. “O Brasil é uma jabuticaba porque tem sistema de metas, mas não tem independência do BC”, completou.

Reservas

O indicado para a presidência do Banco Central afirmou, ao tratar das reservas internacionais do País, que “vale refletir se o preço que estamos pagando vale a pena”. Ao mesmo tempo, Campos Neto pontuou que as reservas internacionais, hoje na casa dos US$ 377 bilhões, são vistas como um seguro contra a crise.

“Passamos por crises que outros emergentes passaram”, citou Campos Neto. “Imagine que a reserva seria um seguro. E que este preço é 14%, contra zero, que é a taxa de juros americana. Então, hoje com taxa de 6,5%, o preço deste seguro ficou muito mais barato”, pontuou Campos Neto. “Vale refletir se o preço que estamos pagando vale a pena ou não. Na administração de reservas para os últimos anos, o custo foi zero. O preço atual do seguro caiu. Não vamos criar aqui especulação sobre o que será feito sobre reservas”, acrescentou.

A expectativa é de que o nome de Campos Neto seja aprovado ainda nesta terça na comissão e no plenário do Senado. Também passam por sabatina Bruno Serra Fernandes, que ocupará a Diretoria de Política Monetária, e João Manoel Pinho de Mello, que será o titular da Diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC.

Ajuste fiscal

O economista Bruno Serra Fernandes defendeu na sabatina o avanço do ajuste fiscal para que a política monetária continue estimulando a economia. O ajuste será capaz de elevar a confiança dos agentes econômicos, reduzindo assim os riscos de uma parada brusca no fluxo de capitais, afirmou ele em rápido discurso.

Ele disse que os juros no Brasil estão em patamar historicamente baixos e já em nível estimulativo, mas para que esse ambiente perdure, é essencial o avanço das reformas fiscais. “Mais do que uma preocupação com o estoque de dívida pública, em suas várias medidas, e de como reduzi-la de forma rápida, é premente a sinalização de contenção dos déficits correntes e de melhora no perfil de destinação dos gastos públicos”, disse ele. “Assim, serão oferecidas as condições para que a política monetária siga no campo estimulativo, com foco nas metas de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional.”

A economia brasileira entrou “em um processo de recuperação resiliente”, mas que tem se mostrado até o momento também “bastante gradual”, destacou o indicado para a diretoria do BC aos senadores. “Novamente, os cenários econômicos brasileiro e mundial encontram-se em momento desafiador.”

O economista citou ainda as reservas internacionais como um amortecedor de choques externos que pode ser “usado para suavizar os impactos de eventual deterioração da liquidez internacional sobre a economia brasileira”, disse ele, ressaltando ainda a importância do regime de câmbio flutuante. “A efetividade deste seguro tende a estar comprometida enquanto não ‘endereçarmos’ nosso desequilíbrio fiscal corrente.”