08/10/2023 - 14:04
Ao menos 1.120 pessoas – 700 em Israel, 413 na Faixa de Gaza e 7 na Cisjordânia – morreram em dois dias de guerra entre Israel e o movimento islâmico Hamas, que capturou uma centena de israelenses em uma ofensiva que pegou o Estado judeu de surpresa. “O inimigo ainda está no terreno”, disse o Exército de Israel no domingo à noite.
O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, pediu aos israelenses que se preparassem para uma guerra “longa e difícil” e o Exército anunciou que evacuará todos os habitantes das áreas próximas da Faixa de Gaza.
A ofensiva lançada no sábado por terra, mar e ar pelo Hamas, que governa Gaza, deixou até agora mais de 600 mortos e 2.000 feridos em Israel, 200 deles em “estado crítico”, informou o governo.
Os bombardeios lançados em resposta por Israel contra Gaza causaram 370 mortos e 2.200 feridos, indicou o Ministério da Saúde do enclave palestino.
O governo israelense também indicou que o Hamas capturou “mais de 100” pessoas no seu ataque, tomando-as como “prisioneiras”.
O Hamas e a Jihad Islâmica, outro grupo armado palestino, alegaram ter capturado “muitos soldados”.
“Matar cada terrorista”
Israel enviou dezenas de milhares de soldados com a missão de “libertar reféns” e “matar cada terrorista presente em Israel”, disse o porta-voz do Exército, Daniel Hagari.
Entrevistas com cidadãos em busca de familiares desaparecidos decorreram este domingo na rádio e na televisão israelenses. Alguns disseram tê-los visto em vídeos que circulavam nas redes sociais que mostravam pessoas sequestradas pelo Hamas em Gaza.
Yifat Zailer, de 37 anos, disse que reconheceu sua prima e os filhos dela, de nove meses e três anos, em um desses vídeos. “É a única confirmação que temos” sobre eles, disse ela por telefone à AFP, angustiada.
A ministra das Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena, informou na rede social X que um homem e uma mulher mexicanos “foram supostamente tomados como reféns pelo grupo Hamas, em Gaza”.
O Conselho de Segurança da ONU realizará neste domingo uma reunião de emergência sobre a situação no Oriente Médio, convocada pelo Brasil, que neste mês ocupa a presidência da organização.
O ataque do Hamas foi condenado pelos Estados Unidos e por vários países europeus e latino-americanos.
O papa Francisco pediu “que os ataques parem”, porque “o terrorismo e a guerra não levam a nenhuma solução, apenas à morte e ao sofrimento de tantas pessoas inocentes”.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, declarou que “o Irã apoia a defesa legítima da nação palestina”.
Netanyahu anunciou a suspensão do fornecimento de eletricidade, alimentos e outros bens de Israel para Gaza.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA) disse estar “profundamente preocupado” com essas medidas no enclave muito pobre de 2,3 milhões de habitantes, sujeito a um rígido bloqueio israelense há mais de 15 anos.
“Sem precedentes em Israel”
O braço armado do Hamas interrompeu a sua ofensiva “Dilúvio Al Aqsa”, que visava “pôr fim a todos os crimes da ocupação (israelense)”.
Israel ocupa a Cisjordânia, território palestino, e Jerusalém Oriental desde 1967.
Os combatentes palestinos dispararam “mais de 5.000 foguetes” a partir da Faixa de Gaza e conseguiram infiltrar-se utilizando veículos, barcos e até parapentes motorizados.
Os milicianos chegaram a áreas urbanas como Ashkelon, Sderot e Ofakim, a 22 quilômetros de Gaza, e atacaram posições militares e civis no meio da rua.
Um ex-soldado israelense declarou que a guerra árabe-israelense de 1973, que ainda é um trauma nacional no Estado hebreu, foi “uma coisa pequena” comparada com a atual ofensiva do Hamas.
“O que aconteceu não tem precedentes em Israel”, reconheceu Netanyahu, naquele que é o maior ataque em décadas, 50 anos depois da guerra do Yom Kippur, que deixou mais de 2.600 israelenses mortos em três semanas de combates.
“Tememos a destruição e o fim da sociedade civil na Faixa de Gaza”, disse Shadi al Asi, um habitante de Gaza de 29 anos, temendo a contraofensiva israelense. “Estamos entrando em uma fase de destruição”, acrescentou.
Em Israel, jornalistas da AFP viram corpos de civis baleados nas ruas de Sederot, no kibutz de Gevim e na praia de Zikim, ao norte de Gaza.
As forças israelenses bombardearam vários alvos em Gaza, incluindo vários edifícios que apresentavam como “centros de comando” do Hamas.
O Exército disse ter atingido 426 alvos, incluindo túneis usados para contrabandear materiais para Gaza, edifícios e outras infraestruturas.
No norte, a partir do Líbano, o movimento xiita pró-Irã Hezbollah atacou com projéteis três posições israelenses em uma zona fronteiriça disputada, em “solidariedade” com a ofensiva do Hamas.
O Exército israelense respondeu com bombardeios no sul do Líbano.
Na cidade egípcia de Alexandria, um policial matou dois turistas israelenses e seu guia egípcio, informaram um canal local e o Ministério das Relações Exteriores de Israel.
A ofensiva do Hamas foi lançada quando Israel e a Arábia Saudita, sob a mediação de Washington, negociaram o estabelecimento de relações bilaterais, uma abordagem condenada pelo Hamas e pelo seu aliado Irã.