Duas embarcações resgataram nesta sexta-feira mais de mil migrantes ao largo da costa da Líbia, um “pesadelo”, segundo denunciaram organizações humanitárias.

As operações no Mar Mediterrâneo continuavam após o resgate de mais de 1.750 migrantes entre quarta e quinta-feira, informou a guarda costeira italiana, que evocou “várias operações” em curso nesta área.

Dois barcos, “Aquarius” da SOS Mediterrâneo e Médicos Sem Fronteiras (MSF) e o “Golfo Azzurro” da Proactiva Open Arms, resgataram mais de mil pessoas apenas nesta sexta-feira de manhã, mesmo dia da cúpula europeia em Malta sobre a migração ilegal no Mediterrâneo.

“Estamos vivendo um pesadelo absoluto neste momento. A situação está além de nossas capacidades, resgatamos cinco embarcações e ainda há três à espera”, escreveu em um tuíte Ed Taylor, um dos responsáveis ​​pela operação no “Aquarius”.

“Não há barcos de resgate suficiente na área (…). Pedimos ajuda, mas ninguém pode vir”, acrescentou.

“Há queimados pelo combustível, feridos, bebês … Um dia difícil”, comentou Proactiva em um tuíte.

Dois grandes navios de resgate, o “Diciotti” da guarda costeira italiana e o norueguês “Siem Pilot”, da Frontex, estavam ocupados no desembarque de migrantes salvos na quarta e quinta-feira.

Paralelamente, em Malta, os líderes europeus reuniram-se em busca de uma resposta conjunta à crise da migração, um fenômeno que divide o velho continente.

Um dia antes do início da cúpula, a Itália e a Líbia assinaram um acordo com o objetivo de fechar a principal rota de chegada de imigrantes ilegais na Europa através do Mediterrâneo.

O primeiro-ministro italiano, Paolo Gentiloni, e o seu colega líbio, Fayez al-Sarraj, concordaram em reforçar a luta contra o tráfico de seres humanos.

Além disso, a Itália comprometeu-se a fornecer recursos financeiros, materiais e sanitários em troca do controle da migração e da criação de polêmicos centros de detenção.

A Itália também irá fornecer “apoio técnico e tecnológico” à guarda costeira da Líbia e ao ministério do Interior líbio, encarregado de diminuir o fluxo de partidas.

A ideia de criar campos de detenção neste país não é nova: em 2008 já aparecia em um acordo celebrado entre o então primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e o líder líbio Muammar Khaddafi, posteriormente morto.

A ideia de bloquear os migrantes africanos na Líbia, país que atravessa uma crise política sem precedentes, não parece uma solução, ressaltam as organizações humanitárias. Muitos migrantes denunciaram abusos e tortura cometidos nos chamados centros de acolhimento líbios.

“Os líbios atiraram em nós como se fôssemos cães”, relatou o jovem Boubacar, nascido na Guiné, de acordo com a porta-voz da SOS Mediterrâneo.

Cerca de 7.000 imigrantes chegaram às costas italianas desde o início do ano, enquanto cerca de 227 morreram ou desapareceram em janeiro em frente à costa da Líbia, segundo dados da ONU.