Pelo menos 103 pessoas morreram quando duas bombas explodiram em meio a uma multidão que lembrava o quarto aniversário da morte do general Qasem Soleimani, noticiou a imprensa estatal iraniana.

As bombas explodiram em um momento de tensão no Oriente Médio, um dia após o número dois do Hamas, Saleh al Aruri, aliado do Irã, morrer em um ataque com drone em Beirute, que as autoridades libanesas atribuíram a Israel.

As explosões, com intervalo de 15 minutos de diferença, ocorreram perto da mesquita Saheb al Zaman, onde se encontra o túmulo de Soleimani, na cidade de Kerman, no sul do Irã. Ninguém reivindicou o ataque, o mais mortal no país desde a revolução de 1979.

“O número de mortos aumentou para 103 após a morte de pessoas feridas durante as explosões terroristas”, reportou a agência estatal de notícias Irna.

A televisão estatal indicou que 211 pessoas ficaram feridas e algumas delas se encontram em estado crítico.

Entre os mortos, há três paramédicos que chegaram ao local após a primeira explosão, afirmou o Crescente Vermelho iraniano.

Segundo a Irna, a primeira explosão aconteceu a 700 metros do túmulo de Soleimani, morto aos 62 anos em um ataque em 2020 realizado por um drone americano nos arredores do aeroporto de Bagdá, no Iraque. O segundo artefatou foi detonado um quilômetro mais longe.

Imagens divulgadas na internet mostraram a multidão ao tentar fugir do local enquanto forças de segurança isolavam a área.

A agência de notícias iraniana Tasnim afirmou que duas bolsas com bombas explodiram. “Os autores (…) aparentemente detonaram as bombas por controle remoto”.

– “Resposta dura” –

“Estávamos caminhando para o cemitério quando, de repente, um veículo parou atrás de nós e uma lata de lixo contendo uma bomba explodiu”, declarou uma testemunha à Isna.

A República Islâmica decretou um dia de luto nacional na quinta-feira e o presidente Ebrahim Raisi, que cancelou uma viagem prevista para a Turquia para esse mesmo dia, condenou o ataque “odioso”.

O guia supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, prometeu, nesta quarta-feira, uma “dura resposta” aos “malvados e criminosos inimigos da nação”.

Ao anoitecer, a multidão voltou ao local da explosão, gritando “Morte a Israel!” e “Morte aos Estados Unidos!”.

“Condenamos o amargo incidente terrorista de hoje (…) Espero que os autores do crime sejam identificados e castigados por seus atos”, declarou a filha de Soleimani, Zeinab.

Washington afirmou que “os Estados Unidos não tiveram envolvimento algum e qualquer insinuação que o contradiga é ridícula”. Também garantiu que “não há motivos” para acreditar que Israel está por trás do ataque.

Israel, inimigo declarado do Irã, não comentou o ataque. “Estamos focados na luta contra o Hamas”, declarou o porta-voz do Exército, Daniel Hagari.

Em um comunicado, o governo venezuelano, importante aliado do Irã na região, condenou “nos termos mais enérgicos” o ataque e pediu que “os responsáveis por um ato tão repudiado sejam punidos”.

O presidente russo, Vladimir Putin, condenou nesta quarta-feira um ataque “escandaloso por sua crueldade e seu cinismo”. O Iraque o qualificou de ato “terrorista” assim como a União Europeia, que expressou “sua solidariedade ao povo iraniano”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também condenou “categoricamente” as explosões.

– Conspirações “terroristas” –

Há tempos, o Irã trava uma guerra nas sombras de assassinatos e sabotagem com seu inimigo Israel, além de combater vários grupos jihadistas e armados.

Em setembro, a agência de notícias Fars informou que uma “operação” chave vinculada ao grupo Estado Islâmico, encarregado de realizar “operações terroristas” no Irã, foi detida em Kerman.

Em julho, os serviços de Inteligência iranianos declararam que desarticularam uma rede que, segundo eles, estava “vinculada à organização de espionagem de Israel” e que planejava “operações terroristas” em todo o Irã, incluindo “uma explosão no túmulo” de Soleimani, segundo a Irna.

O general Soleimani, chefe das forças Quds da Guarda Revolucionária – o Exército ideológico do Irã – era o encarregado das operações exteriores iranianas, especialmente no Oriente Médio.

Soleimani era uma das personalidades públicas mais populares do país e considerado um herói por seu papel na derrota do grupo Estado Islâmico tanto no Iraque como na Síria.

Os Estados Unidos e seus aliados o consideraram durante muito tempo como um inimigo declarado.

Após sua morte, em 2020, o aiatolá Ali Khamenei, que costumava se referir a Soleimani como “mártir sobrevivente”, decretou três dias de luto nacional.

Milhões de pessoas o homenagearam nos dias seguintes à sua morte, em uma demonstração de unidade nacional.

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