Mais de 80 mortos em enchentes no Texas; crianças estão desaparecidas

Chuvas fortes levaram ao súbito transbordamento do rio Guadalupe

RONALDO SCHEMIDT / AFP
Uma vista do Acampamento Mystic, local onde pelo menos 20 meninas desapareceram após uma enchente repentina em Hunt, no Texas Foto: RONALDO SCHEMIDT / AFP

Chuvas torrenciais provocaram enchentes repentinas ao longo do rio Guadalupe, no estado americano do Texas, na última sexta-feira, 4, e já deixaram 82 mortos, dentre os quais 28 crianças.

Entre as vítimas identificadas até agora estão meninas que faziam parte do Camp Mystic, um acampamento cristão de verão. Outras dez garotas do grupo e uma monitora ainda estão desaparecidas. Elas estavam alojadas próximo às margens do rio quando o local foi tomado pela água por volta das 4h da manhã, no horário local.

O número de mortos tem sido atualizado constantemente à medida em que novos corpos são localizados.

O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA declarou estado de emergência por inundações para partes do condado de Kerr, localizado na região montanhosa do centro-sul do Texas. As chuvas acumularam em poucas horas uma precipitação de 30 centímetros, o equivalente a um terço da média anual esperada no condado.

Dalton Rice, administrador da cidade de Kerrville, disse a jornalistas que as inundações extremas ocorreram antes do amanhecer, sem aviso prévio, impossibilitando a emissão de ordens de evacuação.

“Isso aconteceu muito rapidamente, em um período muito curto que não pôde ser previsto, nem mesmo por radar”, afirmou Rice. “Tudo ocorreu em menos de duas horas”, completou.

Segundo a secretária de Segurança Interna da Casa Branca, Kristi Noem, o alerta de inundação “moderado” emitido na quinta-feira pelo Serviço Nacional de Meteorologia não previu com precisão as chuvas extremas. Ela disse que a Casa Branca está trabalhando para aprimorar o sistema.

O rio Guadalupe subiu oito metros em apenas 45 minutos durante a madrugada. Equipes de resgate estão usando 14 helicópteros e uma dúzia de drones, além de centenas de profissionais de emergência para buscar os desaparecidos.

Centenas de crianças acampavam na região

Centenas de outras crianças que estavam em acampamentos na região estão seguras, mas parte delas ainda não foi evacuada devido às estradas bloqueadas pelas águas.

Na sexta-feira, a diretora do Camp Mystic informou, em mensagem lida por jornalistas, que o local também estava sem energia elétrica, água e acesso à internet. “Todos estão fazendo o possível para tirar essas crianças de lá”, afirmou Rob Kelly, autoridade máxima eleita do condado, em uma coletiva de imprensa.

Kelly disse que vários bairros residenciais, parques de trailers e áreas de camping foram severamente atingidos.

Até a noite do sábado, autoridades haviam confirmado o resgate de mais de 850 pessoas. No domingo, familiares foram autorizados a ir até o local do Camp Mystic para auxiliar nas buscas.

O rio Llano, que passa pelo condado vizinho de Mason, também atingiu nível de inundação, configurando “uma situação de risco de vida”, segundo o serviço meteorológico.

Risco de novas enchentes

Com mais chuvas previstas na região, o vice-governador do Texas, Dan Patrick, alertou que o risco de novas enchentes repentinas continua ao menos até domingo.

Equipes da Guarda Costeira dos EUA e da Agência Federal de Gestão de Emergências foram mobilizadas para apoiar as autoridades locais na resposta à crise, disseram os oficiais.

Em junho, dez pessoas morreram na região devido a enchentes repentinas causadas por chuvas torrenciais.

Chuvas torrenciais como as que caíram no Texas estão se tornando mais comuns ao redor do mundo por causa das mudanças climáticas, já que a atmosfera mais aquecida retém mais umidade. No Texas, o número de dias de chuva ou neve intensa aumentou 20% desde 1900, e os dias de calor intenso devem subir 10% ao longo dos próximos dez anos.

Declaração de emergência

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou no domingo uma declaração de emergência por desastre natural para lidar com as inundações no Texas e permitir a ativação da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema) na área.

Trump disse que não se deslocou rapidamente ao Texas para não atrapalhar os trabalhos de emergência, e sugeriu que viajará à área devastada na próxima sexta-feira. Ao ser questionado sobre os planos de seu governo de acabar com a Fema, Trump disse que não era o momento de falar sobre isso.

A administração Trump anunciou planos para cortar e eliminar gradualmente o financiamento federal para a Fema, com o objetivo de transferir as competências para os estados no que se refere à resposta a desastres naturais após a temporada de furacões de 2025.

De fato, a secretária de Segurança Nacional, Kristi Noem, já confirmou o cancelamento – com cortes que somam quase 4 bilhões de dólares – de dois programas importantes da Fema, o de Construção de Infraestrutura e Comunidades Resilientes (BRIC) e o de Assistência para a Mitigação de Inundações (FMA).