Mais de 50 países da Organização Mundial da Saúde manifestaram nesta sexta-feira (28) sua “preocupação” com as informações que sugerem que os líderes da agência da ONU omitiram a denúncia de casos de abuso sexual cometidos por membros da organização.

“Manifestamos a nossa preocupação após informações da mídia que sugerem que a direção da OMS estava ciente dos casos de exploração sexual, abuso e assédio sexual e omitiu denunciá-los como é exigido pelo protocolo da ONU e da OMS”, afirma o texto apresentado pelo Canadá durante a Assembleia Mundial da Saúde.

O texto foi assinado por 53 países, entre eles o Brasil, União Europeia, Estados Unidos, Chile, Costa Rica, Equador, Guatemala e México.

Em meados de maio foram divulgadas novas acusações de abusos sexuais supostamente cometidos por trabalhadores humanitários, sobretudo da OMS, na República Democrática do Congo (RDC).

“Desde janeiro de 2018, mostramos nossa profunda preocupação profunda com as acusações de exploração sexual, abuso e assédio, assim como de abuso de autoridade, nas atividades da OMS”, afirma a declaração conjunta.

– Conversa transparente –

Os países membros e a direção da OMS, incluindo seu diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, “conversaram sobre o tema de forma transparente e vigorosa” na semana passada. Por trás do vocabulário diplomático se escondem certamente debates acirrados.

Os compromissos adotados pela direção da OMS nessa reunião “devem abrir um novo capítulo, baseado na rapidez, transparência e em assumir as responsabilidades”, afirmou a delegada dos Estados Unidos, Stephanie Psaki, irmã da porta-voz da Casa Branca.

De acordo com uma investigação da agência especializada The New humanitarian (TNH) e da Thomson Reuters Foundation publicada em 12 de maio, “22 mulheres da cidade congolesa de Butembo afirmaram que trabalhadores humanitários homens que estavam na localidade por um foco de ebola (…) ofereceram trabalho em troca de relações sexuais”.

No ano passado, uma investigação similar na cidade de Beni revelou 51 casos parecidos.

– Novos casos –

A investigação, que indica que os atos aconteceram em 2019, aponta que 14 mulheres “declararam que os homens se identificaram como trabalhadores da OMS”.

Nesta sexta-feira, o diretor-geral da OMS tomou a palavra antes da publicação do texto e recordou que criou uma comissão independente que deve apresentar um relatório no fim de agosto para esclarecer as acusações.

“Os investigadores têm o poder de ir para onde as provas conduzem”, afirmou Tedros, reconhecendo que vários países estão “frustrados” com a lentidão das investigações e a falta de transparência.

“Falo em nome de todos os meus colegas e da organização quando afirmo que levamos muito a sério essas acusações”, declarou ele, que acaba de lançar sua campanha de reeleição para um segundo mandato.

No entanto, está claro que as coisas não acontecem rápido o bastante aos olhos dos signatários. Stephanie Psaki exigiu informações trimestrais e substanciais sobre o estado da investigação, além de ações concretas adotadas pela OMS “para resolver os sistemáticos pontos cegos (…) e para implementar verdadeiras medidas de prevenção”.