Milhões de habitantes da China receberam ordem nesta quarta-feira (5) de permanecer confinados em suas casas, em cidades com as ruas cercadas, enquanto as autoridades lutam contra a epidemia de coronavírus que já matou 490 pessoas.

A preocupação mundial aumenta, à medida que mais países registram casos que não foram importados da China.

Com 490 vítimas fatais e mais de 24.000 casos apenas na China, mais cidades chinesas adotaram restrições nos últimos dias em áreas afastadas da província de Hubei (centro), o epicentro da epidemia, em uma tentativa desesperada de frear o novo coronavírus.

Quase 56 milhões de pessoas da província de Hubei, que tem a cidade de Wuhan como capital, estão praticamente confinadas desde a semana passada.

Mais três cidades da província de Zhejiang – Taizhou, Wenzhou e partes de Ningbo – adotaram as mesmas medidas, o que afeta 18 milhões de pessoas.

Em Hangzhou, a apenas 175 km de Xangai, barreiras verdes bloqueiam as ruas que levam à sede da gigante de tecnologia chinesa Alibaba, enquanto um avião de combate sobrevoa a região em círculos. Revendedores foram autorizados a entrar na zona para assegurar o abastecimento.

Alibaba fica em um dos três distritos nos quais três milhões de cidadãos passaram a viver sob condições rígidas esta semana: apenas uma pessoa por residência pode sair a cada dois dias para comprar artigos de primeira necessidade.

“Por favor não saiam! Não saiam!”, afirma uma voz no sistema de alto-falantes, que também recomenda o uso de máscara, lavar as mãos regularmente e informar sobre a presença de qualquer pessoa procedente de Hubei, ante o temor de que os moradores desta província possam infectar outros.

As autoridades anunciaram políticas similares em duas cidades na província mais ao nordeste da China, Heilongjiang, e em outras localidades ao longo da costa leste.

Na província de Henan, que tem limite com Hubei, um distrito da cidade de Zhumadian decidiu que apenas uma pessoa pode sair de casa a cada cinco dias.

– Quarentenas –

A epidemia levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar emergência de saúde mundial. Vários governos estabeleceram restrições de viagens e companhias aéreas suspenderam voos para e a partir da China.

Duas mortes foram registradas fora da China continental, uma em Hong Kong e outra nas Filipinas.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, elogiou as medidas drásticas adotadas pela China. “Temos uma oportunidade de atuar graças a estas medidas. Não podemos desperdiçar”, disse.

Nesta quarta-feira, as autoridades japonesas anunciaram que 10 passageiros têm o vírus no cruzeiro “Diamond Princess”, que transporta 3.711 pessoas, todas colocadas de quarentena desde que um homem que desembarcou em Hong Kong foi diagnosticado com a doença.

Segundo a operadora do cruzeiro, ‘Princess Cruises’ (empresa do grupo americano Carnival Corp), metade dos 2.666 passageiros são japoneses, enquanto o ministro da Saúde do Japão, Katsunobu Kato, disse que cidadãos de 56 países estavam a bordo.

Medidas de prevenção e contenção aumentam em todo o mundo. Hong Kong, território semiautônomo chinês que registrou uma morte e 21 casos confirmados, anunciou que todas as pessoas procedentes da China continental serão submetidas, a partir de sábado, a uma quarentena obrigatória de duas semanas.

O Vietnã, que compartilha uma longa fronteira com a China e registra 10 casos, abrirá vários hospitais de campanha para conter a propagação do coronavírus, à espera da repatriação de mais de 900 pessoas que estiveram na China nas últimas semanas.

O Brasil enviará nesta quarta-feira à China dois aviões para repatriar pelo menos 29 cidadãos ou seus cônjuges confinados em Wuhan.

– Um bebê de 30 horas –

Vários governos estabeleceram restrições de viagens e muitas companhias aéreas suspenderam os voos para e a partir da China para conter a propagação do vírus.

Duas grandes companhias aéreas americanas, United e American Airlines, anunciaram nesta quarta-feira a suspensão dos voos com destino a Hong Kong,

A principal companhia aérea de Hong Kong, a Cathay Pacific, obrigou seus 27.000 funcionários a tirar três semanas de licença não remunerada para evitar a propagação do novo coronavírus, anunciou o CEO da empresa, Augustus Tang.

As consequências da epidemia são múltiplas, às vezes inimagináveis, e a lista aumenta todos os dias. Nesta quarta-feira, a linha de montagem do avião Airbus A320 na cidade de Tianjin, perto de Pequim, foi fechada até nova ordem.

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse que a propagação do novo coronavírus adiciona “uma nova dose de incerteza” ao crescimento global.

Cientistas acreditam que a doença surgiu em dezembro em um mercado de Wuhan, capital de Hubei, que vendia animais selvagens e se propagou rapidamente por ocasião das viagens pelas férias do Ano Novo Lunar em janeiro.

A maioria das mortes aconteceu nesta província. As autoridades destacam que a taxa de mortalidade, ao redor de 2%, está abaixo da registrada durante a epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), outro coronavírus que matou quase 800 pessoas em 2002-2003.

A imprensa chinesa informou nesta quarta-feira que um bebê de Wuhan foi diagnosticado com o novo coronavírus apenas 30 horas depois do nascimento e se tornou o infectado mais jovem.

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