Maioria na América Latina apoia intervenção para derrubar Maduro na Venezuela

A percepção dominante é de que a Venezuela vive sob um regime autoritário; somente 16% consideram o país uma democracia

O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro
O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro Foto: REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

A percepção sobre a Venezuela segue negativa entre os latino-americanos. Um levantamento conduzido pela AtlasIntel e da Bloomberg, batizado de Pesquisa Latam-Wide, mostra que a maioria das pessoas na região (73%) considera o país uma ditadura e atribui ao governo de Nicolás Maduro a responsabilidade pela crise humanitária que levou à migração de mais de oito milhões de pessoas.

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A percepção dominante é de que a Venezuela vive sob um regime autoritário. A maioria dos entrevistados classifica o país como uma ditadura, e não uma democracia – somente 16% alegam ver o país como uma democracia e 10% disseram não saber.

Além disso, a população regional vê o governo como o principal responsável pela crise humanitária e econômica, associando o colapso social à permanência de Maduro no poder. Mais de 67% disseram ver o governo como responsável, ante cerca de 20% que culpam os EUA, 4% que culpam a oposição e outros 8% que culpam outras figuras ou não opinaram.

Venezuela; ditadura

Quando questionados sobre as eleições presidenciais mais recentes, nas quais Maduro foi declarado vencedor, a maior parte dos latino-americanos expressou desconfiança quanto à legitimidade do processo eleitoral – com 72% apontando que as eleições foram roubadas.

O estudo mostra ainda que a imagem de Nicolás Maduro entre os latino-americanos é amplamente negativa, enquanto a líder da oposição, María Corina Machado, premiada com o Nobel da Paz de 2025, aparece como símbolo de esperança política. A maioria dos entrevistados afirmou confiar nela para liderar uma eventual transição democrática.

Apesar disso, há ceticismo sobre as chances reais de mudança sem interferência internacional. Parte expressiva da amostra vê os esforços internos de oposição como insuficientes para derrubar o regime.

Narcotráfico e o Estado da Venezuela

O levantamento também explorou a ligação entre o Estado venezuelano e o narcotráfico. Para boa parte dos entrevistados (57%), as acusações de tráfico de drogas feitas pelos Estados Unidos contra membros do alto escalão do governo – incluindo Maduro e figuras próximas a ele – são justificadas, ante cerca de 24% que consideram que são acusações inventadas.

A percepção de que o país se transformou, ou está em vias de se transformar, em um “narcoestado” é difundida, representando 58% dos pesquisados. A maioria acredita que, sem algum tipo de intervenção externa, a Venezuela tende a permanecer sob forte influência de cartéis e grupos ligados ao tráfico.

Maioria apoia intervenção militar

Ao serem questionados se apoiam uma intervenção militar dos EUA na Venezuela para depor Nicolás Maduro e seu governo, 53% responderam que sim e 34% que não, ante 12% que representam abstenção.

Sobre o melhor caminho para derrubar Maduro e reestabelecer a democracia:

  • Intervenção militar liderada pelos EUA: 41%
  • Negociações diplomáticas com outros países: 18%
  • Protestos e negociações políticas: 14%
  • Golpe militar do exército Venezuelano: 9%
  • Abstenção: 16%

A crise migratória continua no radar dos latino-americanos. Segundo a pesquisa, a maioria já percebe impactos diretos da presença de venezuelanos em seus países, especialmente em nações fronteiriças e grandes centros urbanos, representando 58% dos que responderam à pesquisa.

Mesmo assim, a visão sobre o povo venezuelano segue amplamente positiva – um contraste com a imagem negativa do governo.

A expectativa geral é de que o fluxo migratório continuará, mas com intensidade menor caso o regime entre em colapso.

Quando perguntados se visitariam a Venezuela, poucos demonstraram interesse imediato. No entanto, mais pessoas afirmaram que considerariam viajar ao país caso houvesse uma transição democrática.

O retrato apresentado pelo documento mostra que, duas décadas após a consolidação do chavismo, a Venezuela segue sendo vista na América Latina como um caso extremo de erosão institucional e colapso econômico.

Metodologia

O levantamento da AtlasIntel e da Bloomberg ouviu um total de 6.757 pessoas entre 22 e 28 de outubro de 2025 em toda a América Latina.

O estudo abrangeu cidadãos de todos os países da América Latina, incluindo venezuelanos que vivem no exterior. Foram 2.777 entrevistas feitas com pessoas nascidas na Venezuela e 3.980 com residentes de outros países latino-americanos.

A metodologia utilizada, chamada Recrutamento Digital Aleatório (Atlas RDR), busca garantir representatividade continental sem depender de painéis fixos de respondentes.