Talvez La Casa de Papel seja aquela novela bem ao estilo mexicano que fizeram tanto sucesso ao serem exibidas pelo SBT durante os anos 1990. Talvez, ainda, a série lançada pela Netflix no dia 25 de dezembro, seja uma genial trama de assalto a respeito dos ladrões mais corajosos de toda a Espanha. Possivelmente, seja as duas coisas.

E não há qualquer problema nisso. Criada por Álex Pina, um espanhol de Pamplona, La Casa de Papel chegou de mansinho no serviço de streaming Netflix e, sem alarde, na base do boca a boca, ganhou seguidores – curioso, mesmo, foi encontrar gente vestida com o uniforme dos bandidos da série, com um macacão vermelho e uma máscara do pintor surrealista Salvador Dalí, nos blocos de carnaval em São Paulo, há uma semana.

Afinal, o que faz da série única é a sua capacidade de juntar o dramalhão, com um aceno de violência que nunca chega às vias de fato, com uma trama engenhosa de assalto à Casa da Moeda, em Madri, entregue aos poucos. Nada é o que parece de início e, com esse tempero de mistério, a paella está completa – e a metáfora usada aqui, carregada de breguice, está permitida dada a natureza exagerada de La Casa de Papel.

Criada originalmente para a Antena 3, uma emissora de TV por assinatura espanhola, a série foi originalmente ao ar ao longo de 2017, em duas partes, com 15 episódios no total, e uma média de 70 minutos de duração. Ao ser adquirida pela Netflix para ser levada a um público global, La Casa de Papel passou por mudanças: os 9 primeiros episódios foram editados em 13, com até 50 minutos cada um. A segunda parte dessa primeira temporada, com seis episódios, chegará à plataforma em 6 de abril. Os cortes, embora tenham gerado alguns narizes torcidos por aí, podem ter feito bem para a trama, que, mesmo editada pela Netflix, por vezes se arrasta demasiadamente.

La Casa de Papel retrata os dias de um assalto e sequestro na Casa de Moeda. Um homem misterioso, cujo passado é desconhecido e chamado apenas de Professor, recruta seus próprios “cães de aluguel” para realizar aquele que é tido, na série, como o maior roubo do século. Tal qual o Professor, os ladrões adotam nomes de cidades do mundo, na tentativa de esconder a identidade deles. Temos, então: Tóquio (Úrsula Corberó), Nairóbi (Alba Flores), Rio (Miguel Herrán), Moscou (Paco Tous), Berlim (Pedro Alonso), Denver (Jaime Lorente), Helsinque (Darko Peric) e Oslo (Roberto García). Todos, segundo o orquestrador do golpe, foram escolhidos pelas especialidades próprias (a assassina é Tóquio, enquanto Rio é o hacker e os “músculos” são Helsinque e Oslo) e por não terem nada a perder.

O plano é engenhoso e envolve uma síndrome de Robin Hood, o que auxilia o público a se identificar com os ladrões. A ideia ali não é roubar o dinheiro dos outros e, sim, fabricar ¤ 2,4 bilhões ao longo de 11 dias. Para isso, é arquitetado um sequestro de 67 pessoas que estavam dentro do local, funcionários, visitantes e estudantes.

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É na relação interpessoal que La Casa de Papel se perde e se alonga. Por mais profundos que seus personagens deem a impressão de ser ao serem apresentados, pouco a pouco, a água vai até o umbigo e, logo, a evolução estaciona. As tentativas desesperadas de alguns reféns de escapar também não convencem – na terceira vez, até cansam. Ação (das mais estapafúrdias) e a sensação de perigo iminente (embora nunca se concretize de fato) são as principais forças da série. E, convenhamos, para um país acostumado com novelas mexicanas como Maria do Bairro e A Usurpadora, o dramalhão-thriller de La Casa de Papel é fichinha.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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