‘Mainha do Crime’ já tinha sido condenada a mais de 10 anos

Mainha do crime
Mainha do crime cumpria pena no regime aberto Foto: Reprodução/TV Globo

Suedna Barbosa Carneiro, de 41 anos, conhecida como a “Mainha do Crime”, já foi condenada a 10 anos e meio de prisão e atualmente cumpria pena em regime aberto. A primeira prisão ocorreu no dia 18 de março de 2022. À época, ela foi denunciada pelo Ministério Público pelos crimes de receptação, porte ilegal de arma e associação criminosa. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dela.

No dia 10 de maio de 2024, a Justiça atendeu a um pedido da defesa e colocou “Mainha” no regime aberto, ou seja, ela foi cumprir em casa o resto da pena, que só termina em julho de 2032. Nas progressões, foi considerado o fato dela ser ré primária, não ter cometido crime com violência, ser mãe de filhos menores e bom comportamento na prisão.

Na última terça-feira, 18, Suedna voltou a ser presa, apontada como financiadora de crimes de roubo como o que vitimou o ciclista Victor Medrado, que pedalava em frente ao Parque do Povo, no dia 13.

Na casa dela, no Jardim Paraisópolis, foram encontrados R$ 21 mil em dinheiro, 18 celulares e equipamentos eletrônicos que estão sendo periciados. A polícia acredita que ela alugava armamentos a um grupo de criminosos e comprava os produtos roubados por eles em assaltos, como joias e celulares.

No caso em que foi condenada, a acusação foi a mesma da suspeita atual: fornecer armas ilegais a criminosos em troca de prioridade para a compra dos bens por valores mais baixos. Na denúncia, o MP afirma que, em março de 2022, “a denunciada teve em depósito, no exercício de atividade comercial clandestina, duas armas de fogo, 68 munições e dois carregadores” em situação ilegal.

Afirma ainda que, entre 27 de agosto de 2021 e 18 de março de 2022, ela adquiriu e ocultou 28 bens, entre celulares, correntes de ouro e joias, “os quais sabia serem produtos de crimes.”

Outros assassinatos

Os policiais chegaram até ela quando investigavam dois latrocínios. Um deles foi praticado em 17 fevereiro de 2022, em frente a uma escola, nas proximidades de Paraisópolis, quando pais deixavam os filhos no colégio. O outro, em março de 2022, no Morumbi, quando criminosos mataram o secretário de Segurança do município de São José dos Pinhais (PR).

A investigação apontou que Suedna forneceu as armas e comprou os produtos roubados por valores baixos, entre eles um Iphone de R$ 15 mil pelo qual ela teria pago R$ 3 mil. Conforme o MP, a mulher não cobrava nada pelo empréstimo das armas, desde que tivesse prioridade na compra dos produtos.

Dos 28 bens com queixa de roubo encontrados com ela, cinco tinham sido ocorrido no mesmo dia. E ela ainda tinha R$ 7,2 mil em espécie em casa, além de 65 óculos de sol, 50 relógios de pulso, e 40 bolsas de marca. Quatro pessoas presas pelos crimes de roubo e latrocínio, todas moradoras de Paraisópolis, apontaram “Mainha” como fornecedora das armas e receptadora dos produtos roubados.

O juiz que deu a sentença, André Luiz Prado Norcia, refutou a alegação da defesa de que a ré trabalhava com compra e venda de celulares em sua casa, já que ela não comprovou a origem dos bens. Também considerou “não ser crível” a alegação de que ela não sabia que os produtos, comprados por preços muito abaixo do valor real, eram roubados.

“Mainha” foi condenada a 10 anos e seis meses de prisão, além de uma multa de R$ 888. Na ocasião, o juiz negou à ré o direito de recorrer em liberdade.

Armas em troca de mercadorias roubadas

Suedna, que é natural da Paraíba, ficou presa na Penitenciária Feminina da Capital e no Presídio Feminino de Franco da Rocha pouco mais de dois anos. No dia 21 de abril de 2024, foi expedido um ofício liberatório para a progressão para o regime aberto.

O juiz Adjair de Andrade Cintra autorizou a progressão por ter a ré atingido o lapso temporal exigido pela Lei de Execução Penal e devido ao bom atestado de conduta temporária. Ela ficou obrigada a cumprir as exigências do regime aberto, como não mudar de residência.

Na investigação atual, Suedna é apontada pela polícia como suspeita de fornecer armas e munição a um grupo de ao menos sete criminosos que teriam cometidos assaltos à mão armada e de moto em bairros da capital, como Brooklyn, na zona sul, e Pinheiros, na zona oeste.

O “aluguel” seria pago com os produtos roubados por eles, como celulares e joias. A polícia investiga a possível relação entre a morte de Medrado e o latrocínio que vitimou o delegado Josenildo Belarmino de Moura Júnior, de 32 anos, há cerca de um mês, na Chácara Santo Antônio.

O advogado que defendeu Suedna na ação penal em que ela foi condenada disse que a mulher negou os crimes de receptação e que nunca se associou a criminosos. Ela era dona de um bar em Paraisópolis e dispunha de dinheiro vivo, por isso fazia também compra e venda de outros produtos. Conforme o defensor – que pediu para não ser identificado porque já deixou o caso – a polícia invadiu a casa da mulher em plena pandemia de Covid-19, sem mandado de busca e sem que ela autorizasse. Na sentença, o juiz considerou a operação legal.

Cronologia da condenação de Suedna:

– 18/03/2022 – Prisão em flagrante

– 19/03/2022 – Decretada prisão preventiva

– 24/06/2022 – Sentença condenatória (10 anos, 6 meses e 22 dias-multas)

– 18/11/2022 – Negado provimento a recurso da ré

– 22/11/2023 – Progressão para o semiaberto

– 21/04/2024 – Progressão para o regime aberto

– 17/09/2032 – Previsão para o cumprimento da pena total

– 13/07/2032 – Previsão para o cumprimento de pena considerando as remições