Longe de ser favorito quando fez sua estreia em Olimpíadas, Maicon Andrade contrariou todas as expectativas ao conquistar a segunda medalha da história do taekwondo brasileiro, faturando o bronze na categoria até 80 kg, neste sábado (20), com vitória emocionante por 5 a 4 sobre o britânico Mahama Cho.

Há oito anos, Natália Falavigna também tinha levado o bronze nessa modalidade, em Pequim-2008.

Esse bronze tem sabor de ouro para o atleta de origem humilde, que, por muito tempo, precisou se dividir entre os treinos e o trabalho de ajudante de pedreiro para sustentar a família, com a mãe que sofreu câncer de mama e os oito irmãos.

“Lutar em casa é a coisa mais gostosa que tem na vida. Não tem sensação melhor. Conquistar a medalha aqui foi a maior honra possível. Antes, eu nem sonhava em disputar uma Olimpíada no meu país”, vibrou Maicon.

Foi a 18ª medalha do Brasil nesses Jogos, sendo que a 19ª ainda vai sair neste domingo, depois da final do vôlei masculino, contra a Itália.

O ouro na categoria foi conquistado por Radik Isaev, do Azerbaijão, que derrotou na final Abdulrazak Issoufou Alfaga, segundo medalhista olímpico da história de Níger. O outro bronze – o taekwondo tem dois terceiros lugares – foi para o coreano Cha Dongmin.

Maicon, de 23 anos, estreou com vitória dramática sobre o americano Stephen Lambdin por 9 a 7, em combate intenso decidido nos últimos segundos.

Depois disso, superou a decepção da derrota para o ‘gigante’ Alfaga, de 2,07 m, nas quartas de final (6-1), e venceu a repescagem contra o francês M´Bar NDiaye (5 a 2) antes de garantir o pódio contra o britânico.

Depois da vitória sobre Cho, o mineiro correu para a arquibancada para receber o abraço dos fãs, que já estavam eufóricos com a conquista da medalha de ouro de Neymar e companhia no futebol masculino, poucos minutos antes.

– Beijo na bandeira –

Na verdade, o treinador da seleção brasileira de Taekwondo, Alberto Maciel Júnior, revelou à AFP que o lutador entrou para a luta da repescagem já sabendo que o Brasil tinha vencido a Alemanha nos pênaltis no Maracanã.

“Não vimos o jogo, mas ouvimos um barulho enorme no final da luta anterior e estranhamos, porque não estava acontecendo nada demais. Depois, entendemos que o Brasil tinha sido campeão e falei para ele: ‘essa é sua hora’, você é predestinado”, relatou.

Quando chegou à área de combate, Maicon sabia que os gritos de “o campeão voltou” também eram para a seleção de futebol, mas conseguiu usar essa energia a seu favor para buscar a vaga na disputa pelo bronze.

O mineiro entrou com motivação extra e abriu o placar com chute certeiro no rival em menos de dez segundos (1-0).

Maicon continuou indo para cima e ampliou logo para 2 a 0, faltando pouco mais de um minuto para o fim do primeiro round, levando a torcida à loucura, aos gritos de “Brasil, Brasil”.

O lutador da casa adotou uma postura mais defensiva no segundo assalto, deixando o francês encostar (2-1), mas voltou a atacar no terceiro, e foi premiado pela vitória por 5 a 2.

Na luta pelo bronze, a missão era mais complicada. Precisava vencer Mahama Cho, que tinha chegado às semifinais, antes de ser derrotado pelo iraniano Sajjad Mardani.

Mais uma vez, o brasileiro começou bem, abrindo vantagem de 1 a 0, mas o britânico reagiu com golpe no capacete e virou para 3-1.

Maicon não se abalou e correu atrás do prejuízo no terceiro round. Conseguiu encostar no marcador (3-2) com um chute rodado e, em seguida, obteve a virada (4-3) com ótima sequência.

“Tomei um chute por cima, mas isso não me abalou e consegui me manter na luta. No final, consegui aplicar os dois golpes giratórios e saí realizado”, lembrou o mineiro.

O desfecho foi eletrizante, com Cho empatando com um soco (4-4), mas o brasileiro conseguiu a pontuação decisiva a dois segundos do fim e levou a torcida ao delírio.

Depois da vibrante volta olímpica, Maicon se ajoelhou e beijou a bandeira do Brasil, lembrando-se de todas as dificuldades para chegar até o pódio.

lg/tt/fp