Campeão da NFL pela segunda vez, Patrick Mahomes se coloca definitivamente na lista dos maiores jogadores e quarterbacks da história do futebol americano. Aos 27 anos, ele supera marcas de Tom Brady e Peyton Manning após derrotar o Philadelphia Eagles, por 38 a 35, no Super Bowl LVII, na noite deste domingo. Com um contrato válido até 2030 com o Kansas City Chiefs, Mahomes inicia uma nova dinastia na liga.

Selecionado no “draft” de 2017 com a 10ª escolha geral, o quarterback se tornou titular após um ano na reserva do veterano Alex Smith. Desde então, os Chiefs dominam a Conferência Americana (AFC). Nos cinco anos à frente da equipe em campo, disputou todas as finais de Conferência em casa e chegou a três Super Bowls – algo inédito na história do jogo.

Considerado muitas vezes o sucessor de Tom Brady na NFL, recentemente aposentado após 23 temporadas, Mahomes tem desempenho com o Kansas City superior ao de Brady com o New England Patriots em suas seis primeiras temporadas. Nos cinco primeiros anos como titular, Brady disputou três finais de Conferência. Nas outras duas temporadas, não se classificou aos playoffs em 2002 e foi eliminado no Divisional Round em 2005.

Por sua força no braço e um “talento natural”, Mahomes é comparado com outro jogador do Hall da Fama da NFL, Peyton Manning. Selecionado pelo Indianapolis Colts com a primeira escolha geral do draft de 1998, o quarterback foi duas vezes campeão da NFL (uma pelo próprio Colts e outra pelo Denver Broncos) e cinco vezes MVP, mas só chegou a sua primeira final de Conferência em 2003, seu sexto ano na liga.

Em números de conquista e desempenho coletivo, Mahomes já iguala a carreira de Manning. O quarterback de Kansas City já tem, inclusive, mais troféus de MVP de Super Bowl (2) do que o ex-jogador de Colts e Broncos (1). A única marca que resta a ser superada é a de melhor jogador na temporada regular. Com o seu segundo prêmio, pela temporada 2022, Mahomes está a três de igualar Manning. Brady, ao longo de seus 23 anos na NFL, conquistou o MVP em três ocasiões (2007, 2010 e 2017).

DINASTIA EM KANSAS CITY

Nos esportes, uma dinastia se torna realidade quando uma equipe domina e conquista o cenário esportivo de uma liga. Entre os anos 2000 e 2020, o New England Patriots consolidou esta ideia, ao disputar dez Super Bowls, vencendo seis destes. Além disso, disputou 14 finais de Conferência em 20 temporadas. Pelo Kansas City Chiefs, Mahomes começa a repetir o feito de Brady nos Patriots.

Além do ineditismo em disputar cinco finais de Conferências consecutivas como mandante no Arrowhead Stadium, Mahomes nunca deixou de disputar uma pós-temporada, muito menos de chegar à decisão da AFC. Andy Reid, antes de treinar o quarterback, era um dos treinadores da NFL com mais vitórias na temporada regular, mas jamais tinha sido campeão. Com Mahomes, além de se sagrar campeão, superou, em cinco anos, o número de vitórias em pós-temporada em suas primeiras três décadas como head coach.

Com a vitória sobre o Philadelphia neste domingo, Mahomes chegou à sua 11ª vitória em playoffs. As únicas derrotas foram para Tom Brady – na final da AFC, em 2018, e contra o Tampa Bay Buccaneers, no Super Bowl LV – e para o Cincinnati Bengals, em 2021. Mahomes também tem uma forte relação com o Missouri, é casado e tem uma filha, e é um dos investidores do Kansas City Royals, franquia de beisebol da cidade.

Além dos resultados em campo, o planejamento dos Chiefs ajuda a tornar essa dinastia uma realidade. Em 2020, Mahomes assinou uma renovação contratual de 10 anos com os Chiefs, no valor de US$ 450 milhões (cerca de R$ 2,3 bilhões). Junto a isso, a franquia reconstruiu sua linha ofensiva, em busca de proteger seu quarterback e preservar sua integridade física. Com Orlando Brown e Creed Humphrey como principais nomes, Mahomes foi o jogador que teve o maior tempo de proteção dentro do pocket da NFL – diante dos Eagles, não foi sacado em nenhuma oportunidade, contra uma defesa que tinha a melhor estatística da liga.

O impacto de Patrick Mahomes na folha salarial dos Chiefs é de, aproximadamente, 20%. Jogadores que tinham um salário mais alto – ou pediam um aumento em sua renovação – foram dispensados nos últimos anos. Tyreek Hill, “wide receiver” e principal alvo do ataque até a última temporada, e Tyrann Mathieu, safety, foram campeões com os Chiefs na temporada 2019/2020, mas cortados.

Em seus lugares, a comissão técnica da franquia apostou em calouros, direto do draft, para reforçar a defesa e o ataque. Bryan Cook, “safety”, Isiah Pacheco, “running back”, e George Karlaftis, “edge”, foram alguns dos novatos que se sobressaíram na última temporada. O contrato de um jogador recém draftado da NFL tem um impacto salarial muito menor – em 2022, o mínimo que um jogador poderia receber, ao ser selecionado, era U$ 705 mil (cerca de R$ 3,6 milhões) por ano.

MARCAS DE MAHOMES

A temporada 2022 do Kansas City serviu para consolidar Mahomes como o maior jogador da liga. Ao ser eleito MVP da temporada regular – pela segunda vez – e vencer o Super Bowl, o jogador encerrou uma “maldição” de 23 anos, quando Kurt Warner conquistou o prêmio e o título da NFL com o St. Louis Rams, na temporada de 1999/2000. Tom Brady, Peyton Manning e Cam Newton são alguns dos jogadores que chegaram ao Super Bowl como MVP, mas caíram pelo caminho.

Outras marcas ajudam a se ter uma ideia da grandeza de Mahomes. Ele já havia se tornado o jogador mais jovem a vencer o MVP da temporada regular e do Super Bowl, mas agora, aos 27 anos, se torna o mais jovem a conquistar duas vezes os prêmios. Além disso, iguala o número de títulos de grandes quarterbacks da história, como Ben Roethlisberger, Peyton e Eli Manning.

No aspecto histórico, Mahomes é também o primeiro quarterback negro a vencer o Super Bowl em mais de uma ocasião. A final entre Eagles e Chiefs foi a primeira a contar com dois quarterbacks titulares negros (Mahomes e Hurts).