30/04/2019 - 9:01
A cantora italiana Mafalda Minnozzi, que tem uma longa história de arte e envolvimento em projetos sociais no Rio de Janeiro e São Paulo, lançou um desafio aos brasileiros: parar para refletir sobre a importância do mundo interior e das relações humanas. Ela avalia que, diferentemente do que ocorreu na Itália, por aqui é possível evitar o desastre moral, ético e do desperdício. “Eu penso que o Brasil tem essa chance. Porque tem a possibilidade de preservar esse lado humano, espiritual, ainda não foi tudo perdido”, disse a artista, em entrevista à jornalista Roseann Kennedy, no programa Impressões, que vai ao ar nesta terça (30), na TV Brasil.
Mafalda afirma que na Itália o trabalho terá de ser de reconstrução. Para ela, o que fez a Itália forte no mundo foi a parte humana, mas isso se perdeu muito. “Essa coisa de estar ao redor de uma mesa era mais a cultura do encontro, não era a cultura do comer. Era saber: filho o que você está fazendo? Olhar nos olhos do avô, olhar o que está acontecendo de verdade. Agora, a droga está sendo devastadora na Itália. Ela está em todos os níveis sociais”, lamenta.
A cantora também reclama que, se por um lado as informações chegam com uma rapidez absurda, por outro, as pessoas não têm tempo e fazem tudo por mais uma curtida nas redes sociais. “As pessoas estão vendendo a sua alma para ter um like a mais, quando o like que importa mesmo é o que você tem com as pessoas que estão no seu convívio e sabem quem é você de verdade. Porque a gente tem que se conhecer na profundidade e a música faz isso”, conclui.
É por meio da música que ela leva valores a novas gerações. Há mais de vinte anos, Minnozzi participa de projetos de adoção de crianças na Mangueira e no Vidigal. Também faz parte de corais em escolas públicas. “Quando cheguei fiquei chocada com a dança da garrafa. Não podia aceitar isso. A criança deve aprender a brincar, a cantar, mas não dessa forma. Porque devassa o papel da criança e da mulher”, relembra, dizendo que, apesar dos contrastes, foi entendida.
Ela conta que também não aceitava ser chamada de ‘tia’ pela garotada, mas explicava o motivo: “temos nome e sobrenome. O sobrenome conta nossa história, dos nossos avós e bisavós”. Para a artista, essa é uma forma de mostrar respeito ao outro e a sua origem.
“Normalmente não falo muito desse aspecto mas estou vendo, nos últimos anos, que falar disso ajuda outros artistas a abraçar outros projetos. Eles me dizem: Mafalda, mas se você faz e as crianças nem entendem o seu português, a gente faz junto. Então é bom falar do tanto que é possível fazer com pouco”, conclui.