O maestro e pianista israelense David Greilsammer ensaiava em Genebra o espetáculo Geneva Camerata para seguir turnê pela América do Sul e concedeu entrevista à ISTOÉ, por telefone, para falar sobre o concerto único no Brasil na terça-feira (26), às 21 horas, na Sala São Paulo, finalizando o primeiro semestre da temporada 2018 da Sociedade de Cultura Artística.

“Ou a música clássica inova ou ela está condenada à morte”, afirma. Como a seguir essa lei, os músicos de Greilsammer se devotam não só misturar, mas também romper os gêneros musicais, em shows (mais que concertos) em que peças experimentais ou meramente clássicas convivem com o repertório convencional e os músicos improvisam como jazzmen – e, às vezes, dançam.

“Pretendo surpreender a plateia com um evento maluco”, afirma. “Mais do que isso, faço questão chocar o público, principalmente o tradicional. Para a música sobreviver, é preciso conquistar os jovens e chacoalhar as crenças, sem perder a qualidade e o rigor.”

O maestro David Greilsammer e os músicos da Geneva Camerata

No programa, peças contemporâneas politonais do século 20, como “The unanswered question”, do americano Charles Ives, o bem-comportado (e lindo) “Concerto para violoncelo nº 1, de Franz Joseph Haydn”, com o violoncelista holandês Pieter Wiespelwey, e a “Sinfonia nº 40”, de Wolfgang Amédé Mozart, outra gema do repertório clássico do século 18.

É a primeira vez que o grupo toca no Brasil. “Apesar de termos pouco tempo em São Paulo, quero ver um show de música brasileira ou uma apresentação folclórica, pelo menos. Adoro o ritmo diferente da música brasileira, que conheci quando estudei da Julliard School com brasileiros.” Ele pretende fazer isso até para compor futuros espetáculos e álbuns.

Aos 40 anos, ele é um dos astros mais interessantes que apareceram nos últimos anos no circuito mundial de concertos. Diferentemente do perfil do músico tradicional, ele une o virtuosismo ao piano, o alto conhecimento musical à batuta e a rebeldia na concepção de seus espetáculos. Em resposta à moda “crossover” dos anos 1980 e 1990, em que os músicos diluíam e tornavam “mais acessíveis” as peças da alto repertório, Greilsammer apresenta uma modalidade de música “transgênero”, em que quebra os tabus e paradigma do sistema musical burocrático que funciona da mesma maneira há pelo menos 200 anos.

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“Os músicos de crossover prejudicaram a compreensão da música porque trabalharam para a banalização e à audição fácil de um tipo de obra de arte que requer estudo, compreensão e capacidade de interpretação tanto do executante quanto do ouvinte”, diz.

Suas performances são tão eletrizantes que ele não se enquadra nos escaninhos criados pela indústria de entretenimento para vender seus produtos a públicos específicos. Mesmo assim, assinou contrato com o prestigioso selo Sony Classical e lançou com a Camerata o álbum cujo título define bem a missão artística do músico:  “Sounds of Transformation” (Sons da Transformação). Este e outros álbuns estão disponíveis nos serviços de streaming. Vale a penas ouvi-los ou vê-lo pelo YouTube para entender o teor revolucionário da experiência.

“A música tem de fazer parte do mundo real”, afirma Greilsammer. “Nem compositores, músicos e público podem se desconectar do fato de viver cercados de músicas de todos os tipos. Na realidade, tudo é misturado. Como todo mundo, gosto de pop, de jazz, e clássico, de música folclórica brasileira.”

Em novembro de 2017, por exemplo, maestro e Camerata se jogaram em um projeto denominado “Mozart by Memory” (Mozart de cor), em que apresentaram de cor, sem partitura toda a “Sintonia nº 40”, de Mozart. Isso já é perturbador, mas eles foram além e dançaram e tocaram a peça ao longo de 25 minutos. “Genebra tem um público tradicional e ele reagiu mal no início”, conta. “Agora eles enchem as salas de concerto esperando por mais invenções desse tipo. É uma questão de se acostumar ao novo, algo que está fora das dalas de concerto”.  Ele propõe intensidade nos programas. “Não apenas a música do passado e do presente, mas também a do futuro”, diz. O ouvintes na plateia, segundo Greilsammer, precisam ser tão corajoso quanto os músicos que estão no palco.


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