A mãe de Alexei Navalny, o líder opositor russo que morreu na sexta-feira (16) na prisão, não conseguiu ver o corpo do filho nesta segunda-feira, pelo terceiro dia consecutivo, informou a equipe do ativista, que também declarou que as autoridades russas “mentem” para tentar “ganhar tempo”.

O opositor e principal adversário do presidente Vladimir Putin morreu aos 47 anos em uma prisão do Ártico, no distrito autônomo de Yamalia-Nenetsia, na região de Yamal, onde cumpria uma pena de 19 anos, o que provocou indignação das potências ocidentais.

Há três dias, os parentes, que acusam o Kremlin de ter assassinado Navalny e de querer ocultar as evidências de suas ações, tentam recuperar o corpo, mas sem sucesso.

“A mãe de Alexei e seus advogados chegaram ao necrotério no início da manhã. Não receberam permissão para entrar. Um dos advogados foi expulso com empurrões”, anunciou nas redes sociais Kira Yarmish, que trabalhava como porta-voz do ativista.

Ela disse que a mãe do ativista, Luidmila Navalnaya, não foi autorizada a entrar no necrotério onde supostamente está o corpo em Salekhard, a capital regional, que fica a 50 quilômetros da prisão onde as autoridades afirmam que Navalny faleceu.

– “Eles mentem” –

Yarmish afirmou que o Comitê de Investigação, responsável pelas investigações penais na Rússia, comunicou que o inquérito sobre a morte de Navalny “foi prolongado”.

“Não se sabe até quando vai prosseguir. A causa da morte continua sendo ‘indeterminada’. Eles mentem, tentam ganhar tempo e nem sequer escondem”, completou

O Kremlin confirmou que a investigação “segue em curso” e não chegou a nenhuma conclusão “até o momento”.

“Nestas circunstâncias, diante da falta de informação, acreditamos que é absolutamente inaceitável fazer declarações tão odiosas”, afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

A mãe do ativista, Liudmila Navalnaya, compareceu no sábado com um advogado à colônia penal de segurança máxima número 3, um uma área remota a quase 2.000 quilômetros de Moscou.

O Serviço Penitenciário Russo (FSIN) informou que Alexei Navalny morreu na sexta-feira, depois que perdeu a consciência durante uma caminhada.

Ele estava detido desde seu retorno à Rússia no início de 2021, após sofrer um grave envenenamento, e enfrentava problemas de saúde há vários meses.

Durante sua reclusão, Navalny passou quase 300 dias em uma cela disciplinar, em condições rigorosas de isolamento.

Putin, que nunca mencionou Navalny por seu nome, não fez qualquer comentário sobre a morte de Navalny, que aconteceu um mês antes das eleições presidenciais russas, nas quais o chefe de Estado, de maneira previsível, deve conquistar um novo mandato de seis anos.

– Yulia Navalnaya ataca Putin –

A viúva do opositor russo acusou nesta segunda-feira o presidente da Rússia de matar o seu marido e prometeu que continuará lutando pela “liberdade” do seu país.

“Há três dias, Vladimir Putin matou o meu marido, Alexei Navalny. Putin matou o pai dos meus filhos”, disse Yulia Navalnaya, contendo as lágrimas em um vídeo publicado nesta segunda-feira nas redes sociais.

“Com ele, (Putin) queria matar o nosso espírito, a nossa liberdade, o nosso futuro”, acrescentou.

Nesta segunda-feira, a viúva será recebida pelos chanceleres da União Europeia (UE) em Bruxelas .

“Eles não conseguiram quebrar meu marido, foi por isso que Putin o matou”, disse Navalnaya, acrescentando que Alexei foi “maltratado, isolado do mundo” e “mesmo assim não desistiu”.

A esposa do opositor prometeu descobrir “quem cometeu este crime” e em quais circunstâncias.

“Vou continuar o trabalho de Alexei Navalny. Vou continuar pelo nosso país, com vocês. Peço a todos que estejam ao meu lado (…). Não é uma vergonha fazer pouco, é uma vergonha não fazer nada, é uma vergonha se permitir ter medo”, declarou.

Na Rússia, as tentativas modestas de prestar homenagem ao opositor foram reprimidas, em plena campanha de intimidação contra qualquer crítica às autoridades desde o início da ofensiva na Ucrânia, em fevereiro de 2022.

No final de semana, a polícia russa prendeu centenas de pessoas que depositavam flores e acendiam velas em dezenas de cidades para homenagear o dissidente.

Navalny era a figura de maior destaque da oposição na Rússia, onde ganhou popularidade – em particular entre os jovens – graças às investigações sobre a corrupção durante o governo Putin.

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