Ana Clara Machado, de 5 anos, vítima de dois tiros de fuzil na última terça-feira (02), foi enterrada na última quarta-feira (03), em Niterói, poucas horas após um cabo da Polícia Militar ser preso sob a suspeita de ter atirado na vítima.

Cristiane Gomes, mãe da jovem, afirmou que o policial relutou em prestar socorro à menina. “Ela morreu no meu colo, dentro de uma viatura da polícia. Quando chegou ao hospital, seu coração não batia mais. Isso porque o policial ficou pensando se ia pegá-la ou não. Ana Clara caída, baleada no chão e eu gritando “pega minha filha, salva minha filha”, enquanto ele não sabia o que fazer. Até que teve uma hora que o PM a pegou e saiu com ela pendurada para não encostar na farda. Era para não sujar o uniforme de sangue”, contou.

O enterro da jovem foi marcado por pedidos de justiça. Parentes e amigos temem um desfecho com a marca da impunidade.

“Vou voltar para casa sem a minha filha e, alguma hora, esse policial vai para a dele. Encontrará os filhos e, depois, verá os netos. Eu perdi esse direito”, disse Cristiane, enquanto segurava uma boneca de Ana. “Estava com ela (na hora em que foi baleada), é o sangue da Ana Clara (no brinquedo). Minha filha tinha acabado de acordar. Acordou, foi até a porta, viu a luz do dia e tomou um tiro. Agora, voltou a dormir, mas eternamente”, lamentou.

A morte da menina está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo. O cabo da PM foi preso depois de prestar depoimento. Segundo a Polícia Civil, ele caiu em contradição ao falar sobre uma incursão à comunidade do Monan Pequeno, em Pendotiba, onde Ana Clara morava. De acordo com agentes, uma perícia no local da tragédia e declarações de testemunhas evidenciaram incoerências no relato do policial.

O cabo foi encaminhado ao Batalhão Especial Prisional (BEP), também em Niterói, e sua arma está apreendida para a realização de um exame de balística. Ele afirmou que atirou para reagir a um ataque de traficantes, porém a mãe da vítima confirmou que não houve confronto. Além disso, garantiu ter um ouvido um PM ter dito para o colega “você fez besteira”, em referência à morte.