Maduro toma posse com ‘Venezuela em isolamento ainda maior’, diz professor

Maduro toma posse com ‘Venezuela em isolamento ainda maior’, diz professor

Nicolás Maduro toma posse nesta sexta-feira, 10, como presidente da Venezuela por mais seis anos e pela terceira vez. O evento conta com a presença reduzida de lideranças internacionais e está marcado por um processo eleitoral contestado por entidades internacionais.

Durante o período, muitos protestos foram reprimidos violentamente e opositores foram perseguidos pelas forças policiais. Às vésperas da posse, por exemplo, uma manifestação acabou resultando na prisão de Maria Corina Machado, principal líder da oposição.

Antes disso, o genro de Edmundo González Urrutía, que foi derrotado pelo chefe de Estado nas urnas em julho de 2024, foi sequestrado sob circunstâncias suspeitas. De acordo com Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, o cenário é de endurecimento por conta da posse desta sexta.

“É uma semana particularmente tensa. A gente tem acompanhado que o González está fazendo uma turnê por alguns países para garantir o reconhecimento da sua vitória e ele tem conseguido em alguns países. E ele anunciou que iria para a Venezuela para tomar posse, o que gera um outro tensionamento. Caso ele chegue na Venezuela e seja preso, isso reforçaria esse local de continuidade dessa repressão e dessa violência”, afirma em entrevista à IstoÉ.

De acordo com o especialista, a prisão de Maria Corina, que estava fora dos holofotes por um tempo e que, depois de uma aparição pública foi presa, poderia ser vista, em um primeiro momento como uma atitude autoritária por parte do governo. No entanto, com sua soltura após algumas horas, ele diz que é possível observar que a Venezuela quer se mostrar um país “democrático” para os outros países.

“A libertação poucas horas depois mostra esse governo Maduro com um certo receio de manter uma prisão que seria muito simbólica. Prendê-la na véspera da posse do Maduro, sendo ela a principal líder da oposição, deixaria muito explícito que a Venezuela estaria passando por um processo de endurecimento no seu autoritarismo. O mundo não teria como enxergar de uma outra forma”, explica.

Segundo o professor, é exatamente isso o que faz o país estar em uma situação complexa. De acordo com ele, existe um medo das autoridades de perder ainda mais apoios que eram até então certos e históricos, principalmente na América Latina, por conta de um endurecimento de suas políticas.

“Está acontecendo um isolamento ainda maior da já isolada Venezuela. O pouco de diálogo regional que Venezuela tinha está se perdendo, se a Maria Corina tivesse seguido presa teria se perdido ainda mais. A prisão, com a soltura logo em seguida, mostra esse governo um pouco perdido em como guiar o atual processo de controlar a oposição. O endurecimento no controle da oposição vai se traduzir para o mundo como um governo ainda mais autoritário e vai fazer com que o mundo se torne ainda mais refratário ao governo Maduro. Isso não é algo que o governo Maduro está interessado”, diz.

De acordo com o professor, isso acontece pelo fato de o governo Maduro não querer e não poder criar mais problemas com a visão e a pressão internacional sobre a situação da Venezuela. Mesmo assim, o presidente quer sufocar a oposição e não deixar que ela tome conta do país.