O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, culpou as “máfias” neste sábado pela tentativa de milhares de emigrantes de atravessar a fronteira hispânica-marroquina em Melilla, num “ataque à integridade” da Espanha que resultou na morte de 18 deles do lado marroquino.

“Se há um responsável por tudo o que parece ter acontecido naquela fronteira, são as máfias que traficam seres humanos”, disse Sánchez em entrevista coletiva em Madri, antes de elogiar a colaboração das forças de segurança marroquinas para impedir a travessia.

Sánchez disse que foi um “ataque violento (…) a uma cidade que é território espanhol. Portanto, foi um ataque à integridade territorial de nosso país”.

“Em segundo lugar, também quero lembrá-los que a gendarmaria marroquina trabalhou em coordenação com as forças e órgãos de segurança do Estado para repelir esse ataque violento”, continuou.

As vítimas morreram “em uma debandada e quando caíram da cerca” que separa o enclave espanhol do território marroquino, explicou uma fonte das autoridades marroquinas, mas grupos de direitos humanos neste país do norte da África pediram uma investigação independente sobre o ocorrido.

– Investigação –

“Pedimos uma investigação rápida e transparente”, disse à AFP Mohamed Amine Abidar, presidente da Associação Marroquina de Direitos Humanos (AMDH) em Nador, no norte do Marrocos. O presidente da cidade autônoma de Melilla, Eduardo de Castro, foi mais longe e condenou a resposta do Marrocos para conter os imigrantes.

“Estes subsaarianos invadem um território de forma violenta, não é a primeira vez, mas é preciso pesar e ter uma certa proporcionalidade por parte do Marrocos”, disse De Castro à televisão pública espanhola TVE.

Na mesma linha, os parceiros do governo de Sánchez, o partido de extrema esquerda Podemos, criticaram a resposta marroquina, falando de “um dos mais graves abusos humanitários da história da nossa fronteira sul”, disse o responsável de Relações Exteriores deste partido, Idoia Villanueva.

A calma voltou neste sábado em Nador, cidade que faz fronteira com o enclave espanhol, bem como nas proximidades da alta cerca de ferro que separa o território marroquino de Melilla, segundo jornalistas da AFP.

Não havia vestígios de imigrantes na cidade. Segundo Abidar, “teriam se afastado por medo de serem deslocados pelas autoridades marroquinas”, geralmente para o sul do país. Uma testemunha viu vários ônibus levando os migrantes para fora de Nador. Do lado espanhol, os trabalhadores reparavam os danos na cerca fronteiriça.

As autoridades marroquinas, que haviam relatado inicialmente cinco mortos, indicaram posteriormente que “treze migrantes em situação irregular no ataque à cidade de Melilla sucumbiram aos ferimentos graves durante a noite”.

Quanto aos danos sofridos pelas forças de segurança, as autoridades marroquinas colocaram do seu lado 140 feridos, cinco deles em estado grave, e as autoridades espanholas 49 dos seus, todos eles menores.

Foi a primeira grande tentativa de entrada ilegal desde que Madri e Rabat superaram uma crise diplomática e, segundo as autoridades marroquinas locais, foi “marcada pelo uso de métodos muito violentos por parte dos migrantes”.

As últimas tentativas de entrada maciça em Espanha por um dos seus enclaves norte-africanos (Ceuta e Melilla) foram no início de março, antes do degelo das relações hispano-marroquinas.