A recepção positiva ao show de encerramento da turnê mundial The Celebration, da popstar Madonna, nas areias de Copacabana, para 1,6 milhão de pessoas, quinto maior público da história em espetáculos, não foi unanimidade no País. Mesmo com a mobilização e a euforia dos fãs, o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PSD), e o governador do Estado, Cláudio Castro (PL), receberam críticas motivadas por questões financeiras, morais, religiosas e de comportamento.

A mais comum se deve ao fato de a Prefeitura e o governo estadual terem investido R$ 10 milhões, cada um, dos R$ 60 milhões gastos na produção. Os outros 40 milhões foram divididos por patrocinadores, sobretudo Heineken e Itaú. Ao banco coube bancar os US$ 3,3 (cerca de R$ 17 milhões) de cachê da Rainha do Pop. Restrições à postura de Madonna são motivadas por parâmetros pessoais. Cada um tem os seus. Mas, no caso dos investimentos públicos, as críticas partem de uma premissa supostamente correta para chegar a uma conclusão equivocada.

Os críticos defendem que os R$ 20 milhões poderiam ser direcionados à saúde e à educação. Ao contrário dos outros episódios em que esse argumento é correto, no caso específico do show de Madonna ele sugere a ideia de que houve desperdício, o que está a anos-luz da verdade. Os dados e as estatísticas do projeto dão conta de que o impacto econômico deu retorno de sobra à Prefeitura, ao governo estadual e a todos os setores privados envolvidos.

Vamos aos números. De acordo com a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), o show, na semana da realização, gerou movimentação de R$ 293,4 milhões no estado, quase tudo dentro da Cidade Maravilhosa. Além dos 135 mil fãs vindos de todos os cantos o País, o Rio recebeu 15 mil estrangeiros. Só eles deixaram na cidade o equivalente a R$ 42,8 milhões, em gastos com alimentação, compras, lazer e hospedagem. No mesmo período, o Rio tornou-se o segundo destino internacional do continente americano, atrás apenas de Nova York.

A imprensa internacional colaborou cobrindo a apresentação de elogios. O País precisa urgentemente disso para melhorar sua imagem e atrair mais turistas — e dólares. Em 2023, passaram por aqui apenas 5,9 milhões de estrangeiros. No mesmo período, a República Dominicana recebeu dez milhões e o México, impressionantes 38,3 milhões. Dois anos antes, o País foi menos visitado do que a Argentina. O show movimentou 29 vezes o valor investido pela Prefeitura. Mais do que isso deverá retornar apenas em impostos e outros benefícios. Nem sempre investir em lazer e cultura significa errar na escolha de prioridade diante de problemas crônicos.