N a segunda-feira 17 aconteceu em São Paulo o seminário O Futuro da Saúde no Brasil, organizado pelo Lide, grupo que reúne lideranças empresariais de todo o País. A data de 17 de outubro homenageia anualmente o Dia Nacional da Vacinação, e foram de fato os imunizantes o tema do seminário, analisados principalmente em dois aspectos. O primeiro deles é que o Instituto Butantan, em São Paulo, que já é o principal produtor de medicamentos imunobiológicos do País, passará a produzir ainda maiores quantidades de vacinas contra diversas enfermidades, valendo-se da experiência adquirida na emergência da guerra contra a Covid.

O segundo ponto, esse bastante preocupante, é a ininterrupta queda nos índices de imunização no Brasil. Atualmente, o Butantan produz cerca de oitenta milhões de doses de vacina contra o vírus da gripe por seus próprios meios. Em outras palavras, 100% do produto. “Fabricamos desde o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) até o envasamento”, diz Douglas Macedo, diretor técnico de produção.

CIÊNCIA A infectologista Luana Araujo defende maior participação empresarial em políticas de saúde: economia beneficiada (Crédito:Renato S. Cerqueira)

O instituto também contribui com as campanhas de imunização da Organização Pan-Americana da Saúde no Uruguai, Nicarágua e Equador. Para esse fim foram exportadas quase dois milhões de unidades e o planejamento é que essas exportações pelo menos dupliquem. Tanto é assim, que os especialistas se mostraram unânimes em defender, no seminário, políticas públicas de saúde conjuntas, como dever do Estado, além da vacinação em si como elemento de organização e sustentação da própria vida social, política e econômica de uma nação.

“A vacina da gripe, por exemplo, atua fundamentalmente na economicidade. Quanto mais saúde, menos abstenção no trabalho”, declarou David Uip, secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do Estado de São Paulo.

Também prezando pela integração entre bem-estar e trabalho, Luana Araujo, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, defende maior participação das empresas em ações preventivas. “As pessoas passam um terço da vida em suas atividades profissionais. Por isso, a cultura de saúde empresarial tem de ser efetivada”.

O TIME Da esq. à dir.: Dimas Covas, presidente do Butantan, Mônica Calazans, primeira pessoa vacinada contra a Covid no Brasil graças ao pioneirismo do ex-governador paulista João Doria, que cumprimenta o infectologista Uip observado pelo secretário Gorinchteyn: seminário em nome da ciência (Crédito:Renato S. Cerqueira)

Ao longo do ano que vem o Butantan irá expandir, e muito, o volume de imunizantes que protegem de sete doenças. Dentre elas: hepatite A e B, zika e raiva. “Hoje, 95% das vacinas são importadas. Devemos garantir a soberania do País com produção nacional”, afirmou Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan. De cem milhões de doses anualmente, o órgão passará a fabricar trezentos milhões. “Defendo a criação de uma política vacinal para o Brasil”, acrescentou ele. A ampliação da quantidade de imunizantes se tornou possível após o surgimento do Centro de Produção Multipropósito de Vacinas (CPMV). Essa fábrica, construída no interior do parque fabril do Butantan, caracteriza-se por ter todo o seu funcionamento por meio de ferramentas, mecanismos e até laboratórios digitais.

TRABALHO Há mais de um século o Butantan desenvolve produtos de qualidade que evitam doenças: proteção à vida (Crédito:Comunicação Butantan)

Outro diferencial do centro é que a sua plataforma permite a feitura de diferentes vacinas sem ter de mudar a estrutura industrial – é como se fosse uma mesma linha de montagem a gerar automóveis de marcas diferentes. Apenas processos e equipamentos são modificáveis, de acordo com a necessidade. Sua produção também deve servir para salvar vidas em outros países, como é feito no caso do imunizante contra o vírus da gripe influenza.

O CPMV começou a tomar forma por iniciativa de João Doria, ex-governador de São Paulo e pioneiro na vacinação contra a Covid no Brasil, junto ao Comitê Científico do estado. Por meio de Parceria Público Privada (PPP), da qual participaram setenta e cinco empresas de diversos setores, chegou-se a arrecadar R$ 189 milhões, o suficiente para a construção do CPMV. Quanto à taxa de vacinação, pode-se dizer que a situação vai para além de preocupante. Em 2015 o índice de imunização era de 95% e agora caiu para 40%. Tal condição leva a análise de que patologias que estavam plenamente contidas como a poliomielite e o sarampo voltem a infectar a população. Doria afirmou que todo e qualquer governante tem de privilegiar ações que promovam a saúde das pessoas: “O genocídio que houve na pandemia jamais pode voltar acontecer”.