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A febre maculosa é uma doença transmitida pelo aracnídeo carrapato-estrela, tem nas capivaras as suas hospedeiras naturais e chega a ser fatal em pelo menos 50% dos casos — muitas vezes devido à dificuldade de diagnósticos que acabam sendo equivocados. As regiões das cidades paulistas de Ipaussu, Campinas, Piracicaba e Americana, no noroeste do estado, estão amargando um surto dessa enfermidade. Nesses locais existem rios e lagos, e é neles que as capivaras passam boa parte do tempo. Inadvertidamente, qualquer pessoa que entre na água pode acabar tendo tendo contato com carrapatos-estrela. Também em terra ou na grama ocorre a transmissão da doença. Foi isso o que aconteceu com pedreiro Robison Rodrigues, de 32 anos, enquanto passeava no lago municipal de Ipaussu, onde mora. “Percebi que havia algumas capivaras”, diz ele. Ao voltar para casa, tudo corria bem, mas, depois de uma semana de trabalho, começaram os sintomas: febre acima de 39ºC e calafrios, dor de cabeça intensa, dor muscular constante, inchaço e manchas avermelhadas pelo corpo — quando as manchas demoram para a surgir, muitas vezes o estado clínico do paciente é confundido com gripe e, atualmente, Covid-19.

Rodrigues acabou hospitalizado e atravessou um coma de trinta dias. Recuperado, mas com sequelas, ele perdeu dezesseis de seus sessenta e oito quilos, a mobilidade das pernas foi prejudicada e desenvolveu problemas de memória. Para Ralcyon Teixeira, infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, a doença pode acometer as pessoas gravemente: “A febre maculosa não tem uma feição específica, em alguns casos pode ser severa”. Quanto à perda de memória apresentada por Rodrigues, o médico acredita que possa ser um ponto episódico. Animais como capivara, cavalo e cachorro podem carregar em sua pelagem o carrapato-estrela — parasita que se alimenta exclusivamente de sangue e carrega consigo uma bactéria intracelular chamada Rickettisia rickettsii, causadora da febre maculosa. A quantidade de capivaras na região é tão grande que a população organizou manifestações à porta da Prefeitura de Ipaussu. As medidas adotadas para minimizar o contágio, como a suspensão da pesca e atividades no entorno do lago, não surtiram efeito.

Paralisia dos rins

Para Cassiano Victoria, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual de São Paulo, nos locais de turismo rural as pessoas devem se precaver vestindo roupas claras que denunciam a presença do carrapato-estrela. E sempre olhar o prório corpo. “Em área rural deve-se investigar se há presença da ninfa do carrapato”, diz. Essa ninfa, explica o professor, é a primeira fase desse vetor logo após a eclosão. “Como a mordida não dói, a ninfa fica na pele de duas a quatro horas”. Esse é o tempo suficiente para se consumar a contaminação. Na região de Ipaussu houve casos de mortes devido à doença. É o caso do menino Haroldo Fernandes Marcondes Balieiro, que faleceu de febre maculosa no início desse ano. “Foi muito rápido, ele morreu de paralisia renal”, diz sua mãe, Jéssica Aparecida da Silva Marcondes, 28 anos. O garoto de oito anos “era a alegria da casa, brincalhão e sorridente”, diz. Nesse e em outros casos há reclamação a respeito do trabalho de diagnóstico dos médicos. “Quando chegamos ao hospital avisamos que meu filho tinha sido picado pelo carrapato”, diz Jéssica. O caso, no entanto, foi tratado como infecção de garganta.

 

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