O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou nesta quarta-feira (10) a seus ministros que tem “questionamentos” sobre as condições “ambientais”, “sanitárias” e sobre “ramos sensíveis” do acordo entre a UE e os países do Mercosul, enquanto pecuaristas irlandeses protestaram contra o tratado em Dublin.

A União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) fecharam em 28 de junho um grande acordo de livre-comércio, negociado por 20 anos, que envolve cerca de 770 milhões de consumidores.

“Recebemos os documentos que nos permitem detalhar o conteúdo deste acordo”, disse Sibeth Ndiaye na quarta-feira. “O Presidente da República indicou que temos questionamentos sobre três pontos”, para os quais a França quer “respostas extremamente claras”, acrescentou.

A primeira questão é a “força das condicionalidades ambientais”, disse a porta-voz. “As condições atuais no texto que foi comunicado a nós não são suficientemente robustas, e nós queremos dar mais robustez” para “fazer cumprir este Acordo em Paris no âmbito do Mercosul”, declarou.

Além disso, “esperamos que, através deste acordo, sejamos não apenas capazes de garantir a conformidade com as normas sanitárias europeias sobre os produtos em si, mas também em seu processo de fabricação”, disse Ndiaye.

“A terceira questão para a qual temos perguntas e em que queremos trabalhar são os ramos sensíveis, como o boi, açúcar e as aves, que no âmbito do Mercosul poderiam ser alterados ou impactados”, disse.

Segundo ela, o presidente quer ter “detalhes sobre a maneira como as cláusulas de salvaguarda que integram este acordo comercial poderiam ser ativadas”.

Os “acordos comerciais podem ser extremamente positivos para a economia francesa, e nós tivemos a prova recentemente com o Ceta”, o acordo entre UE e Canadá, avaliou Ndiaye.

O texto do acordo “tem de ser concluído no próximo outono pelos negociadores, e esse período deve servir para que possamos levantar uma série de dúvidas e perguntas”, explicou.

– Protestos na Irlanda –

Na Irlanda, produtores de carne bovina marcharam nesta quarta até o Parlamento, onde protestaram contra este acordo.

“O grande problema que temos como pecuaristas é o discurso duplo dentro da UE”, explica Hugh Doyle, produtor e copresidente do movimento Beef Plan Movement.

“Eles têm restrições para os criadores, restrições ambientais em toda a Europa, e temos que trabalhar de forma ecológica”, afirmou. Contudo, “de repente farão um acordo com país que é omisso nisso”.

De acordo com os organizadores da manifestação, cerca de 3 mil pessoas viajaram para Dublin de toda a Irlanda para participar do protesto.

Os manifestantes temem que as novas cotas permitam que a carne da América do Sul inunde o mercado europeu e reduza a produção doméstica.

“Não podemos mais sobreviver assim e agora eles estão falando sobre a redução do preço da carne bovina inundando o mercado com carne barata do Mercosul”, reclamou Connell Tiernan, 55 anos, um fazendeiro de Roscommon, no oeste da Irlanda.

O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, concordou em fazer uma avaliação econômica do acordo e votar contra ele, se for negativo para a economia de seu país.