No domingo 14, quando receber de François Hollande o cargo de presidente da República da França, Emmanuel Macron, de 39 anos, passará a ter oficialmente a responsabilidade de unir um país fraturado. Sua vitória sobre a direitista Marine Le Pen, da Frente Nacional, com 66% dos votos do eleitorado, está longe de representar que os franceses olham na mesma direção. Parte dos que escolheram Macron o fizeram não por opção, mas pela falta dela, e um número recorde de eleitores votou nulo, em branco ou absteve-se. Os partidos à direita e à esquerda não se sentem representados na nova configuração e prometem oposição às propostas liberais do presidente. Para reconciliar a nação, como prometeu, Macron precisará multiplicar a habilidade que o levou em apenas um ano de outsider da política tradicional à presidência da França. Terá que trabalhar como um desatador de nós. E eles são muitos e complexos.

O mais urgente deles é obter uma maioria parlamentar após as eleições legislativas, em junho. Governar com uma sólida base de apoio é importante para qualquer governante. No caso do representante francês, é fundamental. Ele partilha o poder com o primeiro-ministro (confira os mais cotados no quadro). Presidente, primeiro-ministro e parlamento precisam estar em sintonia. Quando os líderes estão de lado diferentes, o que é difícil torna-se insuperável. O problema é que Macron dificilmente conseguirá o controle da maior parte dos 577 cadeiras do parlamento. Por várias razões. Seu partido, o En Marche!, ainda não conseguiu se estruturar para concorrer nas bases do jogo tradicional. Cerca de quinze mil candidatos estavam sendo avaliados, grande número sem experiência política.
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Resistência  à direita e à esquerda

Com os extremos, não há qualquer possibilidade de conversa. A candidata derrotada Marine Le Pen posiciona-se como líder da maior força oposicionista do país, muito em parte com base nos 34% dos votos que obteve no segundo turno. Estima-se que nas eleições legislativas a Frente consiga até 25 dos assentos. Do outro lado, a ala dos políticos mais à esquerda, que no primeiro turno das eleições teve quase 20% dos votos com Jean-Luc Mélenchon, no dia seguinte à vitória de Macron colocou nas ruas manifestantes contra o próximo governo.

Resta ao líder do En Marche! procurar aliança com os dois principais partidos franceses, justamente os maiores derrotados nas últimas eleições. Mas entre os socialistas a divisão é evidente. O antigo primeiro-ministro Manuel Valls anunciou a disposição em concorrer ao pleito legislativo sob a sigla de Macron, mas a proposta tem resistência da liderança do partido. O primeiro-secretário, Jean-Christophe Camdadélis, já disse que nenhum de seus quadros pode concorrer pelo En Marche! Os Republicanos, de centro-direita, sobram como a saída mais viável. Porém, Macron, o desatador de nós, terá pela frente aqui mais um a desamarrar, bem próprio da política francesa. “Há pouca tradição para coalizões políticas”, diz Carlos Augusto Poggio, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.

Sem a costura política consolidada, o novo chefe de estado terá muita dificuldade para colocar sua agenda em prática, em especial em um cenário duro dentro e fora de casa. A França teve crescimento do PIB de 1,2% em 2016 e o desemprego está em torno de 10%. Boa parte das propostas de Macron divide a sociedade, como o projeto que prevê flexibilidade para as relações trabalhistas. Na visão do liberal, a medida trará mais empregos. Para grande parcela da sociedade, ela retira direitos, em uma discussão semelhante à que ocorre no Brasil.

No resto da Europa, o presidente que defende a União Europeia acompanhará o processo de saída do Reino Unido do bloco e terá que trabalhar para fazer convergir sua visão com a da aliada Alemanha. “Ele enxerga uma União Europeia menor e mais integrada, enquanto a chanceler alemã Angela Merkel defende o contrário”, diz o especialista em Relações Internacionais Jorge Lasmar, da PUC-MG. Outra questão será conviver com movimentos crescentes de populismo e nacionalismo em vizinhos como a Hungria. Tudo isso ao mesmo tempo em que a Europa enfrenta a maior onda de imigração desde a Segunda Guerra Mundial. Não faltam nós para Macron desatar.

De Bruni a Brigitte

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David Ramos

A exemplo de Michele Obama, que deu um novo papel ao posto de primeira-dama nos Estados Unidos, Brigitte Trogneux (ao lado, acima), a mulher de Emmanuel Macron, imprimirá uma marca diferente à posição. E isso começa pelas características do casal. Ele tem 39 anos. Ela, 64. Macron a conheceu quando era seu aluno, ainda na adolescência, e diz que Brigitte ficará a seu lado ao longo do mandato, e não atrás. O protagonismo da nova primeira-dama difere do destaque de outra ocupante do posto, a cantora Carla Bruni, esposa do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy. Bruni chamava a atenção mais por suas atividades artísticas do que pela participação em ações públicas de governo. Brigitte será o contrário. Pena que boa parte da discussão sobre seu papel ainda esteja concentrada na diferença de idade entre ela e Macron. É a mesma entre Melania e Donald Trump, o presidente dos EUA. E pouca gente perdeu tempo falando disso.

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JEWEL SAMAD