Depois de mais de quatro horas de atraso e entre vaias, insultos e brigas, o presidente da França, Emmanuel Macron, inaugurou neste sábado (24) o Salão da Agricultura em Paris, um evento crucial para um setor descontente que protagonizou grandes manifestações em janeiro.

O Salão da Agricultura, um evento anual ao qual os presidentes franceses comparecem com regularidade, acontece na capital do país até 3 de março em um momento de tensão, depois que os agricultores bloquearam várias rodovias do país no final de março.

A chegada de Macron ao evento, às 8H00 locais, coincidiu com cenas de violência e confusão, com dezenas de manifestantes tentando forçar as grades para entrar no local antes do horário abertura, o que provocou confrontos com as forças de segurança.

O presidente estava protegido por dezenas de policiais, que impediram a aproximação dos manifestantes. Algumas pessoas chamaram Macron de “mentiroso” e pediram a renúncia do chefe de Estado.

O evento foi inaugurado por Macron com quatro horas e meia de atraso em relação ao programa inicial. Apesar das cenas caóticas, ele conseguiu conversar com alguns agricultores, incluindo alguns integrantes dos três principais sindicatos agrícolas do país.

“Eu sempre prefiro o diálogo ao confronto (…) O confronto não produz nada”, declarou o presidente de 46 anos.

Em sua reeleição em 2022, quando derrotou a candidata de extrema-direita Marine Le Pen no segundo turno, Macron se comprometeu a propor a adoção de “preços mínimos para proteger a receita agrícola”, no âmbito de uma nova lei que deverá regulamentar as relações entre os diferentes participantes na indústria alimentar.

Os “preços mínimos” serão baseados nos indicadores de custos de produção de cada setor (aves, laticínios, carne bovina, etc).

Em novembro, a ministra francesa do Consumo, Olivia Grégoire, se expressou contra uma medida similar votada e rejeitada no Parlamento. Ela disse que a recordava de “Cuba ou da União Soviética”.

O presidente também reiterou seu desejo de evitar que um pesticida seja proibido na França antes do restante da União Europeia, para evitar distorções da concorrência.

Depois dos protestos agrícolas que sacudiram o país no final de janeiro, Macron anunciou uma série de medidas, incluindo um controle mais rigoroso da origem dos produtos e sua recusa a assinar um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.

Na abertura do Salão da Agricultura, no entanto, ele discordou da ideia de que o comércio internacional prejudicaria o setor agrícola local.

Os protestos das últimas semanas também afetaram outros países europeus, como Alemanha, Polônia, Romênia, Bélgica, Itália e Espanha.

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