O presidente da França, Emmanuel Macron, vem sendo cada vez mais pressionado para convocar novas eleições no país após a renúncia do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, que ficou menos de um mês no cargo. Ele foi o quinto premiê nomeado por Macron desde que se reelegeu, em 2022.
A renúncia de Lecornu agravou uma crise política cada vez mais profunda, que vem gerado abalos à liderança de Macron, com ex-primeiros-ministros e aliados se voltando abertamente contra ele e pedindo sua renúncia.
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Macron no centro e na razão do caos
Em 2024, ao tomar a decisão de dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições antecipadas, Macron foi surpreendido com a formação de um Parlamento ainda mais fragmentado e com possibilidades quase nulas de formar uma maioria para dar sustentação ao próprio governo.
O ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, que serviu de 2017 a 2020, no primeiro mandato do incumbente, e planeja concorrer às eleições presidenciais de 2027, instou o presidente nesta terça-feira, 7, a renunciar, afirmando que essa é a única maneira de superar meses de impasse político.
Gabriel Attal, aliado de Macron que serviu como primeiro-ministro de janeiro a setembro de 2024, disse não “compreender mais” as decisões do presidente. Segundo o político, a dissolução da Assembleia Nacional desencadeou uma série de movimentos que sugerem que o mandatário “quer se agarrar ao poder a todo custo”.
Presidente descarta renúncia
Apesar das pressões de todos os setores, especialmente dos partidos de esquerda e do ultradireitista Reunião Nacional, liderado por Marine Le Pen, o mandatário tem afastado publicamente a possibilidade de deixar o cargo antes do final de seu segundo mandato, em 2027.
Após a surpreendente quinta renúncia de um primeiro-ministro, o presidente solicitou sua permanência temporária no cargo até a consolidação de uma garantia de estabilidade política no país.
Sem uma coalizão majoritária no Legislativo, um novo primeiro-ministro poderia rapidamente enfrentar o mesmo impasse que Lecornu e seus dois antecessores imediatos, Michel Barnier e François Bayrou, que também permaneceram no cargo por apenas alguns meses.

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Esquerda dividida, ultradireita ansiosa
Com o racha na base governista, os partidos Socialista, Comunista e o Verde – que tiveram um forte desempenho nas eleições antecipadas de 2024 – instaram Macron a nomear um primeiro-ministro de esquerda. “Estamos prontos para governar juntos e buscar uma política de progresso social e ecológico e justiça tributária, e para restaurar o Parlamento ao seu devido lugar”, disseram as legendas em comunicado conjunto.
No entanto, o partido de esquerda radical França Insubmissa não aderiu ao apelo, refletindo uma profunda cisão dentro do bloco esquerdista, cuja aliança eleitoral saiu vitoriosa no ano passado.
As próximas eleições presidenciais francesas, marcadas para 2027, são vistas como uma encruzilhada histórica na política do país, com a direita radical diante de sua melhor chance de assumir o poder. Macron está constitucionalmente impedido de concorrer a um terceiro mandato.