O presidente centrista francês, Emmanuel Macron, decidiu adiar para quarta-feira a apresentação de seu primeiro Governo, para realizar a verificação das situações fiscais e de eventuais conflitos de interesse dos futuros ministros.

A decisão é compatível com os compromissos de Macron “de moralizar a vida pública”, segundo o comunicado publicado pelo Eliseu para anunciar o adiamento.

Depois de superar esta etapa, os novos ministros “se comprometerão a exercer sua função governamental de maneira irrepreensível”, indica o texto, num momento em que 75% dos franceses opinam que os cargos eleitos e os dirigentes políticos são muito corruptos, segundo uma pesquisa recente.

Assim, o primeiro Conselho de Ministros do Governo, previsto para quarta-feira, será realizado na manhã de quinta. Entre suas primeiras iniciativas, espera-se que apresente um projeto de lei de moralização da vida pública, com uma “proibição de nepotismo para os deputados”, uma clara alusão ao escândalo de empregos fictícios que afundou o candidato direitista François Fillon nas eleições presidenciais.

Os rumores em torno da composição do governo cresceram desde segunda-feira após a nomeação como primeiro-ministro de Edouard Philippe, um político de direita de 46 anos, desconhecido para a maioria dos franceses, que prometeu impor “uma nova dinâmica” no país.

De volta à França, depois de visitar na segunda-feira a chanceler alemã, Angela Merkel, em Berlim, Macron se reunia nesta terça-feira com seu primeiro-ministro para fechar a composição de um Executivo no qual pretende unir figuras de esquerda e de direita antes da batalha das legislativas de junho.

Espera-se que responsáveis do partido conservador Os Republicanos (LR) integrem o Governo, como o ex-ministro Bruno Le Maire, que convocou a “superar as velhas divisões”.

– Explosão –

A poucas semanas das legislativas dos dias 11 e 18 de junho, que determinarão a margem de manobra de Macron para governar, a nomeação de Philippe não é uma boa notícia para os dirigentes do partido conservador, que tenta retomar o voo após presidenciais catastróficas.

Trinta membros do LR e da União dos Democratas e Independentes (UDI, centrista), em sua maioria políticos próximos ao ex-primeiro-ministro Alain Juppé, assinaram na segunda-feira um comunicado no qual pediram ao seu partido que respondesse “à mão estendida” por Macron.

O responsável da campanha do LR para as legislativas, François Baroin, não hesitou, por sua vez, em falar do risco de explosão de seu partido.

Já o Partido Socialista, que sofreu uma derrota sem precedentes no primeiro turno das presidenciais, está tão debilitado que o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, não esconde sua intenção de vampirizá-lo.

Alguns socialistas que se uniram a Macron desde o início de sua carreira rumo ao Eliseu, como o prefeito de Lyon Gérard Collomb, podem ser recompensados com uma pasta ministerial. E o ministro da Defesa de François Hollande, Jean-Yves Le Drian, pode conservar um posto no Governo, apesar da mudança na presidência.

François Bayrou, líder do partido centrista MoDem e aliado de Macron, é outro dos candidatos a dirigir um ministério.

Macron também prometeu abrir as portas do governo a representantes da sociedade civil, como Nicolas Hulot, ex-apresentador de televisão e figura respeitada por sua defesa do meio ambiente, a quem tenta convencer a aceitar “um ministério da Transição Ecológica”.

Embora seu círculo mais íntimo fosse composto quase exclusivamente de homens, o presidente prometeu a paridade em seu Governo. Para alcançar seu objetivo, pode escolher mulheres procedentes do mundo empresarial, como Astrid Panosyan, que dirigiu o grupo imobiliário Unibail-Rodamco, a especialista em comunicação Axelle Tessandier ou a produtora de cinema Frédérique Dumas.

Na noite desta terça-feira, Macron recebeu o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, primeiro dirigente estrangeiro a se encontrar com o novo presidente.

Na quarta-feira, Macron almoçará no Palácio do Eliseu com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.