Há disputas eleitorais que vão muito além de seus resultados imediatos. É o caso da vitória de Emmanuel Macron nas eleições na França no fim de semana. Sua importância simbólica transcende em muitos seus efeitos locais. Ela mostra que ainda há esperança de dias melhores na política européia e mundial e que nem tudo está perdido. Mesmo que a adversária de Macron, a extremista Marine Le Pen, tenha aumentado seu cacife eleitoral, a rejeição ao seu projeto político isolacionista, nacionalista e discriminatório ficou clara. A população não pretende regredir a modelos de governo autocráticos. A democracia continua sendo o sistema de governo mais interessante à maioria e felizmente, mais uma vez, a extrema-direita francesa nadou para morrer na praia.

Mundo afora os ultradireitistas vêm ganhando força, mas não conseguem transformar o apoio popular em capital político. Na hora do voto, o eleitor pensa duas vezes antes de colocar um radical conservador no poder. Sabe-se que essa alternativa traria junto consigo a perda das liberdades individuais, a mistura entre religião e Estado e a perseguição às minorias e aos imigrantes. Sociedades complexas politicamente não se submetem a essa visão da realidade que os extremistas querem impor e que envolve um grande retrocesso. Neste momento a democracia vem sendo testada e questionada de todas as formas, mas os sinais que chegam da França, que tem sido um farol na política internacional desde o século XVIII, são auspiciosos. O que se trama ali é um antídoto contra os impulsos ditatoriais que perturbam o Ocidente.

Jair Bolsonaro foi um dos raros líderes do G-20 a não cumprimentar Macron por sua vitória. É sintomático, já que o presidente brasileiro faz parte das forças da extrema-direita que tentam ganhar espaço na política mundial e exercer o poder com violência. Trava-se hoje uma disputa entre sistemas autocráticos, em que o líder despótico manda e desmanda, e democráticos, em que o voto é respeitado, assim como a vontade da maioria. Nas eleições francesas foi dado um passo importante para que o segundo cenário prevaleça num futuro próximo. A derrota de Marine Le Pen deve ser comemorada com jubilo.