BERLIM, 8 NOV (ANSA) – O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) está em “estado de morte cerebral” em decorrência da falta de comprometimento dos Estados Unidos.   

A declaração foi dada nesta quinta-feira (7) em entrevista à revista “The Economist”. Na publicação, o mandatário francês cita o fracasso do governo americano em consultar a Otan antes de retiras as forças do norte da Síria, o que provocou uma ofensiva deflagrada pela Turquia. “Não há nenhuma coordenação na tomada de decisões estratégicas entre Estados Unidos e seus aliados da Otan. Nenhuma. Há uma ação agressiva, descoordenada, de outro aliado da Otan, a Turquia, em uma zona em que nossos interesses estão em jogo”, afirmou. Macron também questionou se a Organização ainda está comprometida com a defesa coletiva e disse que a situação atual é “um grande problema”. Ao defender mais autonomia militar e estratégica para a Europa, além de um diálogo com a Rússia, o líder francês ressaltou que não existe uma estratégia clara dentro da instituição. De acordo com ele, os desafios do continente europeu vão muito além da saída do Reino Unido do bloco, o chamado Brexit.   

Para Macron, a Europa está sozinha e não pode mais contar com o apoio militar dos EUA, justamente por isso os governos dos países vizinhos devem começar a refletir “como uma potência no mundo”. Na entrevista, o presidente da França ainda descreveu como um “pequeno milagre” que o mundo conseguiu construir “uma equação política sem hegemonia, permitindo a paz” nos últimos 70 anos. “Mas agora há uma série de fenômenos que nos coloca à beira do precipício”, disse Macron, ressaltando que a Europa precisa agir como uma potência para não desaparecer.   

As declarações provocaram a reação de alguns líderes, como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que discordou das “palavras drásticas” de Macron. “Macron escolheu palavras drásticas, não é a visão que eu tenho da Otan. A Otan é indispensável, devemos tomar em nossas mãos o destino da Europa, mas acredito que a Otan avançou e tem um trabalho muito mais político do que anos atrás”, afirmou ela.   

Hoje (8), o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, por sua vez, disse que a Otan deve crescer e mudar ou corre o risco de se tornar obsoleta, apesar de uma das alianças mais importantes “em toda a História já registrada”. “Setenta anos depois, a Otan precisa crescer e mudar. Ela precisa confrontar as realidades e desafios de hoje. Se nações acreditam que podem ter o benefício da segurança sem fornecer à Otan os recursos necessários, se não cumprirem com seus compromissos, há um risco de que a Otan se torne ineficiente ou obsoleta”, finalizou o americano. (ANSA)