Além do presidente francês, chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, também teria externado desconfiança com proposta elaborada pelos EUA e intenções da Casa Branca, segundo reportagem da revista "Der Spiegel".O presidente da França, Emmanuel Macron, teria dito, em uma teleconferência, que existe o risco de os Estados Unidos "traírem" a Ucrânia nas negociações para o fim de uma guerra com a Rússia. A afirmação é da revista alemã Der Spiegel, que teve acesso a transcrições da conversa, que contou com outros líderes europeus e com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
"Existe a possibilidade de os Estados Unidos traírem a Ucrânia na questão territorial, sem clareza quanto às garantias de segurança", teria declarado Macron na teleconferência, que ocorreu na segunda-feira (01/12).
De acordo com a Spiegel, o chanceler federal alemão, Friedrich Merz, fez coro aos alertas do francês. "[Os EUA] estão jogando jogos com vocês e conosco", teria falado o líder da Alemanha, que acrescentou que Zelenski deveria tomar um "cuidado extremo nos próximos dias". Em resposta, o presidente da Ucrânia concordado que existe um "imenso perigo" nas negociações mediadas pelos americanos.
A Der Spiegel teve acesso a uma transcrição da conversa, da qual participaram também os líderes Donald Tusk (Polônia), Giorgia Meloni (Itália), Mette Frederiksen (Dinamarca), Jonas Gahr Store (Noruega), e Alexander Stubb (Finlândia), além de Mark Rutte (secretário-geral da Otan), Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia) e António Costa (presidente do Conselho Europeu).
Segundo a revista alemã, o teor da conversa foi confirmado com duas fontes que estiveram presentes na teleconferência. O governo francês negou as afirmações de Macron. "O presidente não utilizou essas palavras", disse, em resposta à Spiegel. A Alemanha se recusou a comentar.
Ainda segundo a reportagem, o presidente da Finlândia, Alexander Stubb, e o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, que são um dos poucos representantes do bloco europeu com boas relações com Donald Trump, também se juntaram a Macron e Merz nas alertas a Zelenski. "Não devemos deixar a Ucrânia e Volodimir sozinhos com essas pessoas", teria afirmado Stubb. "Concordo com Alexander, devemos proteger o Volodimir", acrescentou Rutte.
Negociações
Os relatos da conversa ocorrem em meio às negociações entre o governo de Donald Trump com Moscou para um acordo que possa encerrar o conflito na Ucrânia e revelam desconfiança dos europeus com o processo – apesar de o bloco ter elogiado publicamente os esforços de Washington.
A transcrição indica que as suspeitas pairam principalmente sobre os dois negociadores americanos designados por Trump: o magnata do setor imobiliário Steve Witkoff, e Jared Kushner, genro do presidente dos EUA.
Ambos se reuniram no fim de semana em Miami com Rustem Umerov, assessor de segurança do governo ucraniano. Pela rede social X, Zelenski chamou as tratativas de "construtivas". Na mês anterior, eles já haviam se encontrado na mesma cidade com o negociador russo Kirill Dmitriev.
Segundo uma reportagem do jornal Wall Street Journal (WSJ), as negociações com o russo aparentemente não se limitaram apenas à geopolítica. De acordo com a reportagem, intitulada "Faça dinheiro, não faça guerra", Witkoff, Kushner e Dimitriev também elaboraram planos detalhados de negócios financeiros que podem ser fechados entre a Rússia e os EUA no futuro, incluindo áreas como mineração e gás.
Na terça-feira (02/12), foi a vez de Witkoff e Kushner se encontrarem com o líder da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou.
De acordo Yuri Ushakov, assessor do Kremlin para assuntos de política externa, não houve nenhum acordo durante a reunião, e um eventual cessar-fogo "não está nem próximo nem longe demais".
Segundo Ushakov, que considerou as conversas "construtivas", os dois lados não conseguiram entrar em entendimento sobre um dos pontos mais sensíveis das tratativas: as disputas territoriais.
As exigências russas de cessões territoriais são um dos pontos mais delicados das negociações. Moscou quer o controle definitivo de todo o território de Donbass, ao Leste da Ucrânia, inclusive os territórios que ainda estão sob domínio militar de Kiev. Esse ponto é rejeitado fortemente pela Ucrânia.
A Spiegel também afirma que, durante a teleconferência, Macron e outros líderes europeus expressaram a esperança de uma reunião com Witkoff e Kushner em Bruxelas ainda na quarta-feira, mesmo dia em que ambos estiveram em Moscou. Merz teria sugerido pedir a Trump para enviar os negociadores à capital belga. Os americanos, no entanto, saírem de Moscou direto para os Estados Unidos, sem escalas.
fcl (efe, lusa, ots)