Na próxima terça-feira (10) Mauricio Macri passará o comando da Argentina a Alberto Fernández, novo presidente do país. Na noite desta quinta-feira (5), em um pronunciamento em rede nacional de televisão, o presidente fez um balanço de sua administração e lamentou que os resultados das reformas econômicas não tenham chegado a tempo.

Mauricio Macri, que tentou a reeleição, perdeu a disputa para o peronista Alberto Fernández, que tem como vice a ex-presidente e senadora Cristina Kirchner. Fernández venceu as eleições em primeiro turno, com 48% dos votos, enquanto Macri obteve 40%.

“Queridos argentinos, pela primeira vez nesses quatro anos, usarei a rede nacional para falar com todos. Durante esses anos, muitas pessoas me pediram para fazer um pronunciamento informando sobre a situação do país. Eu acho que é mais construtivo fazê-lo hoje. É hora de balanços e construção. Acho bom tirarmos alguns minutos para ver claramente onde estamos hoje”, disse o presidente, ressaltando que o país vive agora um momento muito diferente do que vivia em 2015.

Em sua mensagem, que durou quase 40 minutos, Macri dividiu o balanço em 5 eixos: infraestrutura e economia; cultura de poder e qualidade democrática; desenvolvimento humano; economia; relação com o mundo; e segurança e narcotráfico.

“Houve muitos aspectos que não conseguimos resolver, mas valorizamos nossas instituições. Nossa imprensa é mais livre e nossa justiça é mais independente. Estamos mais seguros perante o narcotráfico. A política é mais decente. É a primeira vez que um governo não peronista termina seu mandato. Essa não é uma conquista do presidente, mas de todos os argentinos. É um avanço de nossa democracia. Especialmente em um contexto tão delicado para a Argentina”, afirmou.

Cultura de poder

Em relação ao que chamou de “cultura de poder”, Macri afirmou que, quando assumiu há quatro anos, uma das primeiras coisas que a população lhe pediu foi a mudança no relacionamento do governo com o povo. 

“Me alegra e me orgulha que hoje possamos ser mais tolerantes e mais respeitosos com os que pensam diferente, que possamos ser melhores se nos escutamos e chegamos a acordos, se trabalhamos juntos. Temos que ter orgulho de ter transformado uma cultura de poder. Não há lugar para lideranças messiânicas”, disse.

Macri afirmou ainda que, em seu governo, não houve guerra contra o jornalismo ou contra quem pensasse diferente. “O uso da publicidade oficial como ferramenta para prejudicar a mídia acabou.”

O mandatário disse que a partir da semana que vem mostrará que se pode fazer oposição de uma maneira diferente, “sempre pensando no que é melhor para os argentinos”. 

Em relação à justiça, Macri afirmou que agora funciona melhor e com mais rapidez do que há quatro anos, e defendeu que os juízes ganharam independência durante o seu mandato.

“Nós, argentinos, sofremos por muitos anos as consequências da corrupção no Estado. Agora é mais difícil roubar o dinheiro dos argentinos. Em todos os governos haverá bandidos e ladrões. Mas o Estado trabalha melhor hoje do que em 2015”, afirmou. 

Economia

O presidente argentino se disse insatisfeito com os resultados de seu mandato no que se refere à inflação e à pobreza. O país tem para este ano a previsão de uma inflação que deve alcançar os 55% e cerca de 40% da população vive na pobreza.

“No meio deste ano, parecia que estávamos fazendo a curva. A economia estava começando a acordar. Mas vieram os resultados das Paso [eleições primárias, que servem como uma grande pesquisa nacional, para definir os candidatos habilitados a participarem das eleições gerais]. O medo do futuro e a falta de um sólido esquema macroeconômico nos empurraram para trás”.

Nas Paso, como são chamadas as primárias no país, Alberto Fernández recebeu 47% dos votos, contra 32% de Macri. Após o resultado dessa votação, realizada em agosto, o dólar disparou e o risco país aumentou. Naquele momento, Macri teve que lançar uma série de medidas para tentar aliviar o bolso dos argentinos, como o congelamento do preço dos combustíveis e o pagamento de bônus salariais para os trabalhadores. 

“Há um sentimento de que o Estado não tinha dívidas em 2015. Isso não é verdade. Devia U$ 240 bilhões. Agora, devemos mais, é verdade, cerca de U$ 310 bilhões, mas tem uma razão: nesses anos tivemos que pedir dinheiro emprestado (ao Fundo Monetário Internacional) e dois em cada três pesos foram usados para pagar os vencimentos da dívida, e o peso restante serviu para pagar o déficit deixado por governos anteriores. Recebemos um déficit fiscal muito alto. Quebramos a tendência e equilibramos os gastos estatais. Facilitamos a vida dos exportadores. Abrimos mais de duzentos mercados em todo o mundo. Exportamos mais 10 bilhões de dólares. É por isso que digo que estamos melhor preparados para crescer”, afirmou. 

Narcotráfico e segurança

Em relação à segurança, Macri afirmou que essa foi uma das prioridades de seu governo, e uma das áreas em que mais obteve êxito. “Quisemos que as famílias argentinas voltassem a se sentir seguras em seus bairros, que o Estado recuperasse a autoridade sobre as fronteiras, sobre as zonas tomadas pelo narcotráfico, e isso nós conseguimos”.

O presidente argentino disse ainda que, quando assumiu, havia no país uma sensação de derrota contra o narcotráfico, como se fosse uma luta perdida. “As Forças de Segurança estavam desmotivadas e sem coordenação, e se havia perdido a cooperação com outros países. Depois de 4 anos, deixamos as Forças Federais ordenadas e profissionais, respeitadas pela sociedade, e que respeitam a lei, com o papel claro de servir à sociedade”, afirmou, ressaltando que nos últimos 4 anos os homicídios tiveram uma redução de 30%.

Em sua conclusão, Macri disse que o próximo presidente herdará um governo com informações detalhadas de cada política pública que impulsionou.

“Nos próximos dias, outro presidente assume e outra etapa começa. Faço isso [o pronunciamento e a divulgação de dados estatísticos] porque sei como a falta de informação dificulta e eu nunca faria nada para dificultar para o novo governo. Argentinos, vou acompanhá-los do lado da oposição. Continuaremos juntos com uma presença sólida no Congresso”.