SÃO PAULO, 7 OUT (ANSA) – Na primeira semana da campanha para o segundo turno das eleições no Brasil, as redes sociais ficaram agitadas com uma grande quantidade de vídeos polêmicos antigos do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que envolvem desde maçonaria a possível canibalismo.
As publicações não fazem parte da campanha oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas são impulsionadas por apoiadores do petista nas mídias e até por políticos da esquerda eleitos para cargos no Legislativo, como no caso do deputado federal eleito por Minas Gerais, André Janones.
Entre os vídeos que surgiram esta semana, está um discurso de Bolsonaro, feito há cerca de cinco anos, em uma loja maçônica.
Ao mesmo tempo, repercutiram fotos e vídeos do atual vice do presidente, Hamilton Mourão, e de uma das principais apoiadoras, Carla Zambelli, em eventos dentro da maçonaria.
Uma foto da primeira dama, Michelle Bolsonaro, que é usada na campanha como principal elo com os grupos evangélicos, na cerimônia maçom do casamento de Zambelli também foi replicado nas redes sociais.
O tema é muito polêmico especialmente dentro do mundo evangélico – uma das principais bases de apoio de Bolsonaro – que veem os maçons como aliados do “satanismo”. A movimentação forçou o presidente a falar sobre o assunto e dizer que a “esquerda faz estardalhaço” por sua ida ao evento.
Outra entrevista que viralizou nas redes sociais foi a de Bolsonaro falando sobre aborto, mais um tema muito rechaçado dentro da base evangélica. A reportagem foi divulgada pela IstoÉGente em 2000 e, ao ser questionado sobre o que pensava sobre o tema, o então deputado afirmou que essa era uma “decisão do casal”. Bolsonaro foi perguntado se já havia debatido o tema com sua esposa à época e, ao apontar para uma foto de seu filho, Jair Renan, com cerca de um ano e meio de idade, disse que “já” havia falado com sua companheira “e a decisão dela foi manter” a gravidez.
Também nesta semana, uma entrevista de Bolsonaro dada ao jornal “The New York Times”, em 2016, fez com que a pauta do “canibalismo” entrasse nas discussões das redes sociais. Ao ser questionado sobre tribos indígenas, o então deputado falou sobre o ritual da antropofagia, quando a carne humana é consumida dentro de ritos religiosos.
“Morreu o índio e eles estão cozinhando, eles cozinham o índio, é a cultura deles. Cozinha por dois, três dias, e come com banana. Daí, eu queria ver o índio sendo cozinhado, e um cara falou: ‘Se for ver, tem que comer’. Eu disse: ‘Eu como!’. E ninguém quis ir comigo, porque tinha que comer o índio, então eles não me queriam levar sozinho, e não fui”, afirmou ao jornalista.
Bolsonaro ainda acrescentou que comeria a carne humana “sem problema nenhum” e que isso “é a cultura deles”. No mesmo vídeo, Bolsonaro pontua que em uma viagem ao Haiti, país devastado por uma série de desastres naturais, só não fez sexo com as mulheres locais porque elas se ofereciam “sem higiene nenhuma”.
Nesta sexta-feira (7), outro vídeo em que Bolsonaro admite já ter batido em mulheres também está agitando as redes sociais.
Para o cientista político da FGV EAESP, Guilherme Casarões, “a julgar por essa primeira semana, o debate do segundo turno abandonou qualquer possibilidade de ser propositivo e racional”.
“Tornou-se uma disputa pelas emoções dos eleitores – sobretudo as negativas, medo e ódio. Bolsonaro sempre foi por esse caminho, com relativo sucesso, e segue mais apelativo nos ataques a Lula. Com os resultados do primeiro turno, a esquerda, por sua vez, percebeu que a dimensão dos valores tem um papel muito maior do que se imaginou”, acrescenta à ANSA.
Casarões ainda pontua que, com a decisão de “jogar nesse campo”, a candidatura do petista “é puxada para um conjunto de pautas nas quais Bolsonaro é dominante”.
Ao falar sobre a dominância, o especialista refere-se a uma das principais táticas do bolsonarismo nos últimos anos em atacar Lula e o PT, divulgando textos e vídeos do petista – às vezes manipulados – com temas sensíveis aos seus eleitores nas redes sociais. (ANSA).