26/12/2022 - 12:52
Casablanca, o filme considerado “o” clássico de todos os tempos, revela-se como a cidade marroquina onde funciona uma verdadeira toca de espiões internacionais que, no cinema, também têm tempo de se envolver em aventuras românticas. Do mesmo Marrocos, emerge agora o “M118”, como inicialmente havia sido identificado Mohamed Belahrech, agente secreto apontado como pivô da trama da compra da Copa do Catar 2022. Foi adicionado ao escândalo de corrupção que passou a borbulhar em Bruxelas em julho, quando a Justiça da Bélgica destapou um poço de criminosos infiltrados no Parlamento Europeu – que tem sede na cidade.
Por corrupção e lavagem de dinheiro, a organização se beneficiaria de decisões econômicas e políticas. A primeira acusada do caso “Catargate” foi a grega Eva Kaili, que visitou o país em novembro e voltou defendendo o Catar no Parlamento no Europeu na questão do desrespeito aos direitos humanos. Também está sendo investigado o acordo de aviação entre a Qatar Airways e a União Europeia. Só em dinheiro vivo foram apreendidos 1,5 milhão de euros pelos investigadores belgas, em batidas feitas por escritórios e casas. Eva, além de perder o cargo de vice-presidente e a imunidade parlamentar, está presa — e joga a culpa toda no marido, o italiano Francesco Giorgi. Ele até confessou seu envolvimento no caso da Copa do Catar e também foi preso, como parte da lista de mais denunciados.
M118, que é vigiado pelos governos da França e da Espanha, circula entre Marrocos, Catar, Bélgica, Itália e Polônia. Seria o pivô nos contatos e lobbies armados durante anos, com eurodeputados, e considerado “homem perigoso”, segundo fontes citadas pela imprensa belga e italiana, aliado por exemplo do ex-deputado Pier Antonio Panzeri (agora também preso), que teria se ligado ao serviço secreto marroquino DGED, depois de não conseguir ser reeleito em 2019. Sua ficha internacional relata atuações pelo menos desde 2013, quando foi encarregado de espiões em mesquitas na Catalunha, região da Espanha, a mando do DGED. Desmantelada a rede, ressurgiu na França, pouco depois, em um caso de corrupção do aeroporto de Orly.
Agora, M118 é considerado peça-chave para se conseguir traçar o caminho do dinheiro empregado na tal compra da Copa do Catar 2022. Não é Casablanca o seu centro de operações, mas Rabat, a capital, e sua vida certamente não é uma obra de ficção transformada em filme.