A escolha do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para comandar o Senado pelos próximos dois anos é um sinal alvissareiro. Comedido, dizendo coisa com coisa, o mineiro Pacheco parece ser a luz no fim do túnel que há anos ansiávamos por vez. Tenho consciência de estar expondo apenas uma primeira impressão, mas política tem muito disso. O dom da palavra é essencial.

O conteúdo e a forma. Na extensa entrevista que concedeu à imprensa mineira no dia seguinte à eleição deixou isso bem claro. Primeiro, o mais importante, a consciência de que nosso País está estupidamente dividido, rancoroso, como se as loucuras de 2018 devessem ser perpetuadas ad aeternum. Pacheco não entrou hostilizando ninguém; ao contrário, entrou estendendo a mão a todos, mostrando que o objetivo último de toda a política é a convergência, não os dissensos vazios que vimos nos últimos vinte anos, que tanto têm custado à sociedade brasileira. Cada político tem seu estilo, mas aqueles que se pautam pela agressividade, pela grossura, pelo descomedimento, situam-se na fronteira do populismo autoritário, prática que a todo dia destrói um pedaço do pouco que conseguimos fazer no sentido de construir instituições democráticas sólidas.

O objetivo último de toda a política é a convergência, não os dissensos vazios que vimos nos últimos vinte anos, que tanto têm custado à sociedade brasileira

Na Câmara, infelizmente, vimos exatamente o oposto. O novo presidente da Casa, o deputado Arthur Lima (PP-Al.) entrou com o pé errado e andando para trás. Anunciou sua intenção de desmantelar os modestos avanços que a duras penas conseguimos efetuar no tocante à reforma política, a começar pelo mais importante deles: o fim das coligações entre partidos nas eleições legislativas. Não se requer argúcia alguma para entender o que o anúncio do deputado alagoano contém de obscurantista e reacionário.

Para se fazer representar na Câmara, um partido tem de eleger pelo menos um parlamentar, ou, dito de outra forma, atingir o chamado cociente eleitoral, que vem a ser a divisão do total de votos pelo número de cadeiras a preencher. Admitir que uma coligação entre vários partidos equivalha a um partido é uma falcatrua, uma fraude contra a vontade do eleitor, abrindo as portas para uma infinidade de aventureiros apenas interessados em ter acesso ao Fundo Eleitoral, em vender por baixo do pano seu tempo de televisão e por aí afora. Acabar com essa excrescência foi um importante avanço, contra o qual o deputado alagoano já entrou atirando. Observemos, pois, que no túnel há também um trem correndo velozmente em nossa direção.