PERSONAGEM Keanu Reeves: ator cedeu imagem e voz para o game “Cyberpunk 2077” (Crédito:Divulgação)

A parceria entre Hollywood e a indústria dos videogames passa para a próxima fase em 2021, quando a fronteira entre elas será definitivamente derrubada: no lugar das simples adaptações de enredos e personagens, uma relação simbiótica entre esses dois universos os tornou praticamente uma coisa só, um ser gigantesco e poderoso digno dos melhores blockbusters de ação.

Essa junção é fruto da tecnologia, mas também de razões comerciais e criativas. Em primeiro lugar, pelo tamanho dos mercados: se, por um lado, Hollywood foi prejudicada com o fechamento das salas de cinemas, a pandemia foi bastante lucrativa para as novas plataformas de streaming. Além disso, fez o consumo dos games explodir ainda mais, transformando seus personagens e franquias em marcas extremamente populares. Se o cinema ultrapassou o faturamento anual de US$ 100 bilhões apenas em 2019, mais de cem anos após a inauguração do primeiro estúdio, o setor dos videogames precisou de pouco mais de três décadas para movimentar quase o dobro desse número: cresceu 20% em 2020 e faturou espantosos US$ 180 bilhões.

Outro fator que aproxima os dois mundos é o intercâmbio entre seus profissionais. Há cada vez mais roteiristas de cinema criando enredos para jogos, assim como há cada vez mais games adaptados para as telas. Até os astros do cinema, que colaboravam apenas por meio de dublagens, hoje cedem suas imagens para os personagens virtuais – como no jogo “12 Minutes”, thriller estrelado por Willem Dafoe e James McAvoy, ou “Cyberpunk 2077”, protagonizado por Keanu Reeves. A novidade tem atraído até estrelas de grande credibilidade, como a vencedora do Oscar Cate Blanchett. Ao lado de um elenco que inclui ainda Jack Black, Kevin Hart e Jamie Lee Curtis, a atriz está escalada na versão para as telas de “Borderlands”, uma das franquias mais premiadas e populares entre os jogadores, que já vendeu 57 milhões de cópias.

O brasileiro Daniel Tavares, engenheiro de software da empresa de games Zynga, sediada em San Francisco, nos EUA, afirma que a estratégia conjunta atrai uma audiência maior graças à popularidade das marcas. “A união cria oportunidades interessantes. Já temos jogos das franquias de ‘Harry Potter’ e ‘Game of Thrones’, e o próximo será sobre o popular universo de ‘Star Wars’. Criar uma franquia do zero dá muito mais trabalho e o custo é altíssimo”, afirma. Para o especialista SJ Santos, mestre em Game Design pela universidade americana Full Sail, o cinema ainda está descobrindo a melhor maneira de se adaptar aos novos tempos. “Os jogos focados em histórias têm enredos longos, com muitos personagens. Como transformar as 60 horas de ‘The Last of Us’, por exemplo, em um filme de apenas duas horas?”, questiona. Ironicamente, a autora desse jogo é justamente Halley Gross, que veio do cinema tradicional. Santos ressalta ainda que o sucesso de um projeto é determinado pelo entendimento das diferenças entre as técnicas narrativas. “Um filme é um enredo fechado, onde o público é passageiro da experiência criada por outra pessoa. No game, é o jogador que está no comando e toma as decisões. Juntar as duas coisas é o maior desafio dos produtores.” É bom prestar atenção nisso quando for jogar – ou entrar no cinema.

Os próximos games nas telas