Os times do Campeonato Paulista voltaram ao trabalho nos últimos dias cercados de protocolos de segurança, mas uma restrição precisou ser deixada de lado por Santos e Palmeiras. Apesar da recomendação médica para se ter cuidado com pessoas acima de 60 anos, grupo considerado de risco pelo novo coronavírus, os dois clubes mantêm na rotina de treinos os dois respectivos técnicos. Vanderlei Luxemburgo, de 68 anos, e Jesualdo Ferreira, de 74, não vão deixar de comparecer aos centros de treinamento.

As duas equipes consideram que as presenças de Luxemburgo no Palmeiras e do português Jesualdo no Santos são fundamentais para o processo de retomada dos trabalhos. Os dois técnicos mais velhos do Paulistão têm coordenado ações da comissão técnica e acompanhado o rendimento dos jogadores nos testes clínicos e físicos neste início de competição. Os treinadores, porém, têm cuidados especiais.

O uso de máscaras, a utilização de álcool em gel e o distanciamento social têm sido mais rigorosos para os dois. Inclusive, no início desta semana o Santos enviou uma equipe até a casa de Jesualdo para que ele pudesse fazer o exame do novo coronavírus sem precisar se deslocar. No Palmeiras, Luxemburgo está sempre com a máscara e tem sido monitorado com frequência pelos médicos alviverdes. O técnico se afastou no últimos dias para ser submetido a uma cirurgia para a retirada da vesícula, mas voltará a frequentar a Academia de Futebol em breve.

Curiosamente, os dois têm como auxiliares principais outros profissionais em idade de risco. O preparador físico de Luxemburgo é Antônio Mello, de 72 anos. O assistente técnico do Santos é Rui Águas, de 60. Assim como os treinadores, os dois também têm frequentado as atividades para acompanhar os testes e observar o desempenho dos atletas antes do retorno aos trabalhos em campo. Os clubes não abrem mão de ter todos esses profissionais em atividade.

Apesar do protocolo médico da Federação Paulista de Futebol (FPF) não tratar sobre medidas para pessoas acima de 60 anos, o diretor médico da entidade, Moisés Cohen, avalia que o ideal é não ter no cotidiano do futebol profissional pessoas dessa faixa etária. “O melhor seria não ter nos treinos pessoas do grupo de risco, seja por idade ou por alguma comorbidade. Mas não tem como proibir a presença dos técnicos nos treinos. Eles são primordiais para suas equipes”, explicou ao Estadão.

Quando anunciou a autorização para os times voltarem a treinar, o governador de São Paulo, João Doria, explicou que os times não deveriam contar com pessoas de mais de 60 anos presentes nas atividades. Porém, dentro do futebol essa sugestão tem sido flexibilizada. Até mesmo a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) traz no guia médico que pessoas acima de 60 anos devem ter algumas restrições ou apenas evitar ambientes de “elevada concentração de pessoas”.

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“Os médicos dos clubes são pessoas muito importantes nesta retomada. São eles que devem ter um olhar atento para quem tem mais de 60 anos, ou funcionários hipertensos e até quem é diabético e, a partir disso, ver as condições do clube sobre quem deve ser afastado. Essa definição é muito importante, principalmente para olhar condições individuais de saúde”, explicou ao Estadão o coordenador médico da seleção brasileira de futebol feminino, Nemi Sabeh Júnior, um dos responsáveis pelo guia da CBF.

RESTRIÇÕES – Os clubes procurados pelo Estadão revelaram que têm trabalhado neste reinício somente com um efetivo de funcionários bem reduzido para manter os trabalhos. O São Paulo, por exemplo, estima estar só com 10% da quantidade de empregados no CT da Barra Funda. O Corinthians faz o mesmo e explica não ter no momento funcionários do grupo de risco presentes no CT Joaquim Grava.

Entre os times do interior, alguns admitem ter precisado dispensar algumas pessoas caracterizadas do grupo de risco. “Temos dois funcionários com mais de 60 anos, um na comissão técnica e o outro no departamento de registro. Vamos tomar esse cuidado com eles”, disse Adalberto Baptista, presidente do Conselho de Administração do Botafogo Futebol S/A, de Ribeirão Preto (SP).

“Vamos precisar afastar funcionários do clube que estejam no grupo de risco, a não ser que sejam peças fundamentais, como participantes da comissão técnica, como treinador e auxiliares”, afirmou o médico do Água Santa, Arnildo Segundo.


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