O Iraque presta homenagem nesta segunda-feira às mais de 200 pessoas que morreram no domingo (3) em um atentado em Bagdá reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), um dos mais violentos da história do país.

As autoridades anunciaram hoje um balanço atualizado de 213 vítimas fatais. No domingo, o número de mortos era de 119.

Com este novo boletim, configura-se um dos ataques mais graves na história do Iraque, um país que sofre há muitos anos com atentados contra locais de grande público, como centros comerciais, mercados, ou mesquitas.

O atentado deixou mais uma vez em evidência a incapacidade do governo iraquiano de aplicar medidas de segurança eficazes.

O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, que visitou o local do ataque no domingo, decretou luto nacional de três dias e prometeu “punir” os responsáveis.

O atentado foi executado por um combatente do EI que detonou um carro-bomba em uma rua do bairro comercial de Karrada. O local estava lotado, com pessoas que faziam compras para a festa que marca o fim do Ramadã, o mês do jejum muçulmano.

O atentado também deixou mais de 200 feridos, informou o governo. O balanço aumentou consideravelmente, porque a explosão provocou incêndios em prédios e lojas próximas.

Hussein Ali, um ex-soldado de 24 anos, contou à AFP que seis funcionários de uma loja que pertence a sua família morreram no atentado.

“Vou voltar ao campo de batalha. Ao menos lá eu sei quem é o inimigo e posso combatê-lo. Mas aqui não sei contra o que tenho que lutar”, disse.

Extremistas sob pressão no Iraque

O atentado foi reivindicado pelo EI.

Em nota, o grupo relatou que um homem-bomba iraquiano atacou os xiitas, a comunidade muçulmana majoritária no Iraque considerada herege pelos radicais sunitas.

O ataque também demonstra que o EI tem a capacidade de cometer ações devastadoras em pleno centro de Bagdá, apesar das derrotas militares sofridas no Iraque nos últimos meses, com a perda de cidades como Tikrit, Ramadi e, sobretudo, Fallujah, que foi reconquistada em junho pelas forças iraquianas.

Criticado por ser incapaz de proteger os civis, o primeiro-ministro Al-Abadi anunciou no domingo (3) uma mudança nas medidas de segurança, entre elas a retirada dos detectores de explosivos considerados ineficazes.

Também ordenou ao Ministério do Interior que acelere a mobilização de um dispositivo para inspecionar veículos em todas as entradas de Bagdá, por onde passam a cada dia milhares de caminhões e carros particulares.

No domingo, os habitantes de Bagdá demonstraram sua revolta, atirando pedras na direção do comboio de Al-Abadi, que disse compreender os “sentimentos de emoção, tristeza e raiva”.

“Juro por Deus, este governo é um fracasso”, afirmou uma mulher que perdeu seu apartamento na explosão.

“Se as táticas [do EI] evoluem, por que o governo mantém a mesma estratégia?”, questionou um morador, citando como exemplo os pontos de controle e os detectores de explosivos que se mostraram ineficazes.

No lugar do atentado, os moradores do bairro acendiam velas em homenagem às vítimas, enquanto outros varriam as ruas cheias de cinzas, na esperança de encontrar desaparecidos.

O atentado de Bagdá foi condenado pela comunidade internacional, incluindo o enviado da ONU para o Iraque, Jan Kubich, que o chamou de “ato covarde e hediondo de proporções sem precedentes”.

“O ataque não faz mais que reforçar nossa determinação de apoiar as forças de segurança iraquianas”, afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Ned Price.

Washington lidera a coalizão internacional que realiza diariamente ataques aéreos contra posições do EI. Essa ofensiva permitiu às forças iraquianas retomar parte dos territórios perdidos em 2014 e avançar até Mossul, a segunda maior cidade do país e último grande reduto do EI.

Os extremistas também estão sob pressão na Síria, onde perdem terreno no norte e leste, mas ainda conservam importantes territórios como a cidade de Raqa, que virou a “capital” do EI.