A Internet, “o maior mercado do mundo” que nunca fecha, tornou-se o local de predileção do tráfico global de vida selvagem, e os especialistas pedem uma maior regularização das plataformas de comércio on-line.

É o que reivindicam a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e organizações não governamentais na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), realizada no Panamá desde 14 de novembro.

Ao final do encontro, nesta sexta-feira (25), o comércio de várias espécies deverá ser banido, ou fortemente restringido.

Segundo a Interpol, o tráfico de animais silvestres aumenta entre 5% e 7% ao ano.

Devemos “ir mais longe” e forçar “as plataformas a removerem seus conteúdos, impondo sanções”, afirmou o diretor de projetos do Fundo Internacional para a Proteção dos Animais (IFAW), Lionel Hachemin.

Entre 2016 e 2021, este especialista acompanhou anúncios de espécies animais ilegais na França, publicados em sites de comércio eletrônico, assim como em grupos privados em redes sociais como Facebook, WhatsApp e Signal.

Resultado: mais de 1.800 anúncios foram publicados, oferecendo gatos malhados, tartarugas mediterrâneas, ou araras coloridas.

Junto com a WWF e a Traffic, a IFAW criou uma coalizão contra o tráfico on-line de animais silvestres, que visa a ajudar as empresas de comércio eletrônico a “desenvolverem políticas que protejam seus usuários e negócios, ao mesmo tempo que previne o tráfico de animais silvestres”.

Para isso, a ONG ajudou o site francês de classificados Leboncoin a fortalecer sua regulamentação, proibindo a venda de objetos de marfim e de papagaios-cinzentos do Gabão.

– Centro de operações –

Todos os anos, dezenas de milhares de quilos de espécies silvestres entram e saem da França ilegalmente, alimentando um tráfico global estimado pela Interpol em bilhões de dólares por ano.

A França, com seus 12 territórios ultramarinos, é um centro nevrálgico para o tráfico de vida selvagem.

Segundo a Plataforma Científica Intergovernamental sobre Biodiversidade (IPBES), esse tráfico – considerado “a terceira atividade do crime organizado transnacional mais lucrativa do mundo” – contribui para o desaparecimento de espécies silvestres.

Apenas em 2021, “36 toneladas de produtos ilegais foram apreendidas no terminal 2 do aeroporto Roissy Charles de Gaulle”, aonde chegam os voos procedentes da África, de acordo com a UICN, incluindo uma dezena de toneladas de carne (pangolim, primatas, morcegos, cutias…).

A França também é um país “fonte”. Exemplo disso é a explosão da caça ilegal de filhotes de enguias, cuja exportação para fora da União Europeia foi proibida em 2009.

Capturado na costa atlântica, este peixe migratório ameaçado é exportado principalmente para a Ásia, sobretudo, China e Tailândia.

Em 2021, uma rede de traficantes – suspeita de ter exportado mais de 46 toneladas e lavado 18,5 milhões de euros – foi desmantelada na França.

A luta contra o tráfico de animais silvestres é reforçada neste país, graças à “lei de 30 de novembro de 2021 de combate ao abuso de animais”. A referida legislação proíbe o envio de animais vertebrados pelo correio e a venda on-line de animais por parte de pessoas que não sejam profissionais da área.

Existem, contudo, dois grandes obstáculos a este combate: a falta de meios atribuídos às organizações de luta e a formação incompleta dos magistrados.

“Seria necessário que os magistrados tivessem meios suficientes para atacar o tráfico transfronteiriço e contar com assistentes especializados que pudessem contribuir com sua experiência nas espécies apreendidas”, recomenda o advogado e vice-presidente do comitê francês da UICN, Sébastien Mabile.