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A cerveja é feita basicamente com quatro itens: água, malte, leveduras e lúpulo. A bebida, com origem na Ásia, alcançou o estado da arte na Europa e é idolatrada no Brasil, mas o País não contava, até bem pouco tempo, com a produção do mais mágico desses ingredientes, o lúpulo. Ele confere à bebida o aroma e o amargor, além de funcionar como um antibactericida. Acreditava-se que a necessidade de mais horas de sol, como se vê no Hemisfério Norte, onde o dia dura 16 ou 17 horas no verão, era um empecilho para o plantio nos trópicos, onde esse intervalo dura 10 ou 12 horas. Mas nos últimos anos verificou-se que a planta pode sim crescer com qualidade no Brasil e as iniciativas nesse sentido se multiplicam em várias regiões onde se busca uma cerveja 100% brasileira.

Os imigrantes europeus até que tentaram o cultivo no século XVIII, mas a produção industrial em larga escala desestimulou o plantio. Só em 2009, o engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldi conseguiu a proeza de plantar lúpulo. Ele conta que fez um primeiro plantio em 2005 e não teve sucesso. Quatro anos depois, porém, viu que uma das mudas havia vingado. “Foi um acidente de certa forma”, afirmou Veraldi. Ele chegou a ter 900 mudas e hoje está com 300. Ele justifica a queda na produção pelo modelo de negócios. Veraldi é proprietário de um empreendimento que comercializa produtos artesanais e produz a própria cerveja, em São Bento do Sapucaí, a pouco mais de 100 km de São Paulo.

PRODUÇÃO O lúpulo passa por um processo complexo de industrialização até ser utilizado na elaboração da cerveja

O cervejeiro e sócio da Dádiva, Victor Marinho, já foi cliente de Veraldi. Ele faz uma experiência e a cada edição troca o fornecedor do produto. “Eu quero experimentar vários lúpulos, é um projeto que a gente tem”, afirma Marinho. Ele produziu a Smash Ipa e a South Blossom, ambas com o insumo 100% nacional e coloca no rótulo quem foi o produtor. A Dádiva produz 50 mil litros mês e pertence ao mundo das microcervejarias. É nesse ambiente que o lúpulo nacional parece encontrar maior prosperidade. A maior vantagem apontada por Marinho é que o produto importado sofre muito com a viagem, enquanto o nacional apresenta um frescor sem igual. No entanto, a maior surpresa está na questão do aroma. “Foi algo positivo e inesperado, inclusive para o público”, comemora.

A Embrapa iniciou os estudos do produto só em 2018. O engenheiro agrônomo e pesquisador, Renato Assis, disse que houve uma demanda e depois de um início com oito espécies, hoje apenas seis continuam sendo pesquisadas. A cultura é nova e não existe um mapeamento preciso de onde os agricultores estão, mas há uma concentração na região sul e sudeste. “Já produzimos um lúpulo de qualidade e a iniciativa veio a reboque da infinidade de cervejas especiais que existem no País”, disse. Há cultivos nos estados: de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais.

Responsáveis pela produção das cervejas Itaipava, Crystal, Petra, Black Princess, entre outras, o grupo Petrópolis tem apostado no insumo nacional e elaborou a Braza Hop com o ingrediente. O diretor industrial e mestre cervejeiro Diego Gomes é grande entusiasta da iniciativa. Hoje a Petrópolis tem uma plantação com 22 mil pés. Desde abril, o grupo comercializa o matéria prima para produtores artesanais. Gomes disse que “o principal motivo para produção no Brasil é a paixão do brasileiro pela cerveja. Só faltava produzir o lúpulo, o que estamos provando ser possível”, diz.

“O principal motivo para produção de lúpulo no Brasil é satisfazer a paixão do brasileiro pela cerveja” Diego Gomes, diretor industrial do grupo Petrópolis

Há uma discordância quanto ao custo da produção. O ingrediente nacional custa cerca de R$ 300 e o importado varia entre R$ 200 e R$ 500. Enquanto Veraldi e Marinho acreditam que o valor não m ude muito em relação ao produto importado, Gomes acredita que é questão de tempo para que os valores caiam muito e a matéria-prima custe apenas 70% do custo da importação. Os pontos de vistas são pautados pelo tamanho do negócio. Assis acha que é cedo para avaliar a questão financeira da produção. “A questão não é econômica, trata-se de produzir um produto diferenciado”, afirma.