Coluna: Marcos Strecker

Lula vive sua melhor semana no governo

Lula vive sua melhor semana no governo

Marcos Strecker

Lula desembarcou hoje em Roma comemorando o melhor momento de seu terceiro mandato. Depois de um começo acidentado com grande desorganização na Esplanada, bate-cabeça na articulação política e ataques golpistas, ele pode saborear a virada. Ao invés de ela acontecer no marco dos cem dias, ocorrerá quase seis meses depois da posse.

A principal fonte de boas notícias é a economia, apesar das previsões iniciais pessimistas. O crescimento do PIB foi surpreendente no primeiro trimestre, puxado pelo agronegócio. A ironia é que esse é setor mais problemático para o petista, por ser próximo do bolsonarismo e estar em choque constante com o MST, que tem lugar de honra na gestão. Esse detalhe importa pouco no final, já que o governo pode apenas trombetear que trouxe o crescimento de volta, apesar da derrapada na indústria e nos serviços.

Mas a aprovação esperada do marco fiscal no Senado, que deve ocorrer entre hoje e amanhã, reafirma o pragmatismo bem-sucedido do presidente, como já havia demonstrado no primeiro mandato, há 20 anos. Haddad é verdadeiro operador político do presidente e a âncora de uma política econômica de centro, responsável fiscalmente e alinhada com o setor produtivo. Essa atitude, bancada mesmo contra a ala mais à esquerda do PT, está prevalecendo para dar os resultados mais positivos a Lula, e ele quer aproveitar ao máximo esse bônus.

Ainda nesta quarta, Lula deve comemorar a aprovação de Cristiano Zanin para o STF, com uma maioria confortável no Senado e ampla aceitação na imprensa, nos meios jurídicos, entre os políticos e até no bolsonarismo. É um acinte que seu advogado pessoal tenha sido escolhido para a mais alta corte do País, driblando a previsão constitucional de impessoalidade na administração pública e contra a própria promessa de campanha. Tudo passou batido e a confraternização do novo ministro nos corredores dos Três Poderes poderá ser o enterro simbólico definitivo da Lava Jato.

Até na política exterior, onde Lula tem mostrado a face mais retrógrada e pretensiosa da sua gestão, a semana será de boas notícias. Depois de celebrar ditaduras, ressuscitar blocos ideológicos da velha esquerda e se alinhar de forma mal-disfarçada à invasão russa na Ucrânia, Lula participará de encontros que só trarão imagens positivas. Participará de um festival pop a convite de Chris Martin, do Coldplay, vai apertar a mão do papa Francisco e discursará em um encontro econômico promovido por Emmanuel Macron em Paris, em que os países ricos serão cobrados por mais ajuda às nações pobres. Ele vai poder exercitar novamente seu figurino de estrela global e pai dos pobres. É um feito e tanto diante de um começo tão acidentado. Tudo o que ele queria e antes do que seus inimigos, e até aliados, poderiam prever.