Ao afirmar que não existem dois Países, mas sim um único Brasil, Lula quer dizer que ele, já eleito para exercer a função de presidente da República, governará para todos os brasileiros – não somente para aqueles que o recolocaram agora no Palácio do Planalto, mas, também, para os que preferiram o seu oponente político. Lula acerta em sua fala, demonstra ser um estadista de temperamento democrático e conciliador, demonstra vivência política, demonstra consciência do uno pedaço de chão que deve ser uma nação.

Existe um único Brasil ele repete, didaticamente, como alguém, pleno de sonhos, fé e boa vontade, que luta para varrer um dia a intolerância para fora do território nacional. A questão é saber se, uma vez que sejamos tolerantes até com os intolerantes, em busca de uma pacificação, a intolerância não triunfará. É o famoso e desafiador paradoxo com o qual o filósofo Karl Popper nos desafia em seu monumental livro The open society and its Enemies.

Lula age. Lula urde o civilizado com o civilizatório ao falar em unir o Brasil, até porque o Brasil está dividido – e isso fica escancarado não apenas na diferença apertada de percentagens que saíram das urnas, mas, sobretudo, no comportamento social daqueles que o elegeram em contraposição aos desejosos que o alucinado Jair Bolsonaro ganhasse o segundo mandato. Tudo o que foi escrito até aqui suscita uma indagação: depende somente de Lula reunificar o Brasil cindido pela turma da bala?

A resposta é clara: não, não depende somente dele, depende, e muito, do que restar dos farrapos do bolsonarismo. A extrema direita brasileira não tem, e nem queremos que venha a ter, um líder ideológico – nunca, aliás, o possuiu, até mesmo Plínio Salgado ao liderar o integralismo estava longe de ser carismático condutor. Também a direita não se vê representada; e em idêntica situação se encontra a denominada alt-right. Todas essas ideologias predadoras se abrigaram no bolsonarismo, que, na verdade, enquanto bolsonarismo sangue puro, não passa de uma nociva turma de arruadores dispostos a depredar o meio social, promovendo a anomia, a ignorância e o preconceito.

A extrema direita e a direita ideologizada, somadas aos patrimonialistas de sobrenome Bolsonaro e a seus seguidores só de baderna farão tudo nesse instante para que o Brasil siga divido. Provocarão Lula até o limite da intolerância para aí dizerem, cinicamente, que ele é intolerante. Com o passar dos meses, no entanto, a extrema direita, a direita e a alternative-right pularão fora e alugarão outro messias. Aí, com Bolsonaro ficará apenas a patota da arruaça. Lula a vencerá e unificará o País no figurino constitucional do Estado de Direito.