SÃO PAULO, 17 JUL (ANSA) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez na noite desta quinta-feira (17) um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão e chamou de “chantagem inaceitável” o tarifaço de 50% imposto pelo mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump, além de qualificar a família Bolsonaro como “traidores da pátria”.
O discurso de cerca de cinco minutos chega em meio à pior crise entre Brasil e EUA nas últimas décadas e também serviu para o petista defender o Pix, sistema de pagamento que é alvo de uma investigação da Casa Branca, e rebater acusações americanas sobre supostas práticas desleais.
Lula começou o pronunciamento dizendo que o governo foi “surpreendido” com o aumento das tarifas contra produtos brasileiros e ressaltou que o país “sempre esteve aberto ao diálogo”, tendo realizado “mais de de 10 reuniões” com representantes dos EUA. “Encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras”, afirmou.
O primeiro motivo citado por Trump para promover o tarifaço é o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por golpe de Estado, porém o petista destacou que o Brasil conta com um “poder Judiciário independente” e que respeita “o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa”.
“Tentar interferir na Justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional. Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo”, acrescentou.
Lula também disse que “é preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes e desacreditar as vacinas”.
O presidente salientou que vai defender o Brasil “de cabeça erguida” e que segue apostando “nas boas relações diplomáticas e comerciais com todos os países do mundo”. Além disso, chamou de “falsas” as alegações de práticas comerciais desleais movidas pelos EUA contra o Brasil.
“Os Estados Unidos acumulam, há mais de 15 anos, robusto superávit comercial de US$ 410 bilhões”, afirmou o petista, acrescentando que o Brasil “não aceitará ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo”.
Lula também pregou a necessidade de fortalecer parcerias comerciais “com a União Europeia, a Ásia, a África e nossos vizinhos da América Latina e do Caribe” e prometeu usar “todos os instrumentos legais para defender” a economia brasileira.
“Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações. Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono ? o povo brasileiro”, concluiu.
Pouco antes, Trump alimentou a crise e divulgou uma carta endereçada a Bolsonaro, na qual repete que o ex-presidente é vítima de um “sistema injusto”, além de exigir a interrupção “imediata” do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a trama golpista.
“Estou muito preocupado com os ataques à liberdade de expressão, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, vindos do atual governo. É minha sincera esperança que o governo do Brasil mude de rumo, pare de atacar oponentes políticos e acabe com seu ridículo regime de censura. Estarei observando de perto”, disse o republicano. (ANSA).