As recentes declarações do presidente da República sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, responsabilizando também o país agredido – e não apenas o país agressor – pela guerra que já dura um ano, reinseriram o Brasil na rota mundial dos vexames institucionais.

Desde a viagem à Argentina e ao Uruguai, a primeira do novo mandato, quando elogiou a inflação portenha de 94% ao ano e defendeu mais uma vez as protoditaduras sul-americanas, Lula não nos causava tanta vergonha diplomática.

Não sei se por ignorância pantagruélica (pesquisem quem foi Pantagruel) ou costumeira má fé (que o faz aliar-se a ditadores e terroristas mundo afora), mas Lula teima em não apenas escolher o lado errado, como a hora errada, o contexto errado e as palavras erradas.

Responsabilizar a Ucrânia pela guerra vale dizer aos ucranianos que se rendam, que entreguem sua pátria, suas propriedades, suas riquezas, suas crenças, seus valores, suas famílias, seu futuro, enfim, a um tirano autocrata expansionista, que é Vladimir Putin.

Ao mesmo tempo, afirmar que os Estados Unidos e a União Européia incentivam o conflito é pretender abandonar à própria sorte a Ucrânia, deixando o país e sua população sem armas e suprimentos militares, de joelhos diante do gigantesco exército russo.

Os petistas adoram criticar aquilo a que chamam “falsa simetria” entre Lula e Bolsonaro, destacando ser impossível comparar os erros de cada um. Pessoalmente, não concordo. Até porque, no meu caso, não faço simetria alguma, apenas exponho quem e o que são.

Mas dando de boa que estejam com a razão, pergunto: equiparar Ucrânia e Rússia não seria, aí sim, uma falsa simetria? Culpar por um conflito trágico, com perdas humanas e econômicas gigantescas, igualmente quem agrediu e quem se defendeu, não é errado?

Não espero, como nunca esperei, coerência e bons propósitos intelectuais do presidente Lula. Mas às vezes, sinceramente, ele se supera e consegue me surpreender na tibieza de seus pensamentos. E pensar que ainda faltam longos 1360 dias, no mínimo, pela frente.