Alexandre Kalil faz parte de uma das mais ricas e tradicionais famílias de Belo Horizonte, mas chama aqueles de quem não gosta de ‘milionários idiotas e elite estúpida’. É também herdeiro de um negócio de construção civil fundado por seu pai, Elias, e se tornou um tipo de ‘empresário de sucesso’ muito conhecido no Brasil. Explico as aspas:

Alexandre expandiu os negócios do pai, falecido em 1992, e formou um pequeno conglomerado de empresas. Neste período, enriqueceu substancialmente, mas às custas de muito dinheiro público (licitações), muita sonegação de impostos (ações fiscais), muito calote em ex-funcionários (Justiça do Trabalho) e fornecedores (ações cíveis), inadimplemento com a cidade (IPTU) e até apropriação indébita (INSS) – quando o patrão fica com o dinheiro do trabalhador e não o repassa ao governo.

Como ocorre na maioria dos casos destes ‘empresários de sucesso’, Kalil, hoje, possui dívidas e ações judiciais em série, mas não as paga e vive em um luxuoso apartamento, em um dos bairros mais nobres da capital mineira, por onde circula em motos e carros importados, enquanto assiste à costumeira impunidade com os poderosos reinar soberana.

Com um currículo destes, somado à uma passagem vitoriosa, em campo, como presidente do Atlético Mineiro, mas desastrosa, financeiramente (deixou o Clube completamente quebrado), nada mais natural do que seguir para a política, um antro de, digamos, pessoas assim, haja vista o Congresso Nacional atual, que tem cerca de 2/3 de seus parlamentares enroscados com a Justiça brasileira.

Eleito prefeito de BH em 2016, e reeleito em 2020, abandonou o cargo para concorrer ao governo do Estado contra o atual governador Romeu Zema, do partido Novo. Muito atrás nas pesquisas e completamente desconhecido no interior de Minas, Kalil, sempre metido a valentão, independente e um sedizente ‘não político’, tratou de buscar um colo eleitoral para chamar de seu, e, por motivo de extrema identificação e afinidade moral, escolheu como sua ‘supernanny’ (uma espécie de super babá) ninguém menos do que o inocentíssimo, ilibadíssimo, injustiçadíssimo e vítima de juízes e procuradores cruéis, Lula da Silva, o meliante de São Bernardo.

Pois bem. Em discurso na semana passada, em Uberlândia (MG), Lula e Kalil foram recebidos por uma chuva de xixi e cocô, despejada de um drone. O piloto – e dono do aparelho – foi merecidamente preso e responderá judicialmente por seu ato fascistóide de selvageria. Ainda que ambos os políticos, a meu ver, não mereçam nada melhor, é inadmissível algo assim. Política não se faz com violência (mesmo que políticos, como Lula e Kalil, dentre tantos, usem e abusem dela – violência – em seus ataques a adversários).

Durante o show de horrores eleitoral, o líder do mensalão desfilou um rol de mentiras e mistificações populistas. Ao seu lado, Kalil permanecia atento, olhos vidrados, mãos cruzadas em um misto de admiração e, talvez, vergonha, servindo garrafinhas de água mineral ao novo mentor (na boa, aos 63 anos de idade, passar por isso – papel de papagaio de pirata e garçom de ex-presidiário -, é imerecido até para alguém como ele).

O líder da quadrilha do petrolão, então, anunciou: ‘Kalil fará com Minas o que fez com o Atlético’. O quê? Como? É sério esse ‘bilete’? Então, tá. Vamos lá:

Primeiro, contratará amigos e familiares e lhes pagará salários muito acima do mercado. Questionado, dirá: ‘cunhado não é parente’. Em seguida, será a vez do funcionalismo: ‘pagar salário em dia não é proposta de governo’. Depois, irá gastar tudo o que tem e não tem, deixando o estado em situação pré-falimentar (outra vez, como deixou Pimentel, do PT). Dará murros na mesa e gritará com todos que dele discordarem. Atrasará as contas e atirará Minas nos cartórios e fóruns de Justiça, após empenhar anos de receita futura em juros bancários. Por quê? Bem, porque foi exatamente isso o que fez com o Galo.

Espero que Kalil não vença. Seja porque é quem é, seja ainda por justiça ao trabalho hercúleo de recuperação que tem feito o atual governador, Romeu Zema, a despeito de erros e certos aspectos negativos de seu governo. Porém, vencendo, espero que não repita com Minas Gerais o que fez com o Atlético Mineiro, como previu o ex-tudo (ex-condenado, ex-presidiário, ex-corrupto, ex-lavador de dinheiro), Lula da Silva.

Por fim, espero também que, ao ler este texto, não queira me atirar pela janela, como recentemente ameaçou, de forma absolutamente inaceitável (como a chuva de cocô, né, Kalil??) um jovem repórter que lhe perguntou: ‘por que o senhor não paga suas 40 ações trabalhistas?’. Pois é. Por que, hein, ex-prefeito?